Pesquisadores da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) desenvolveram um novo método que promete revolucionar a forma de detectar metanol em bebidas alcoolicas. Esse teste, criado em 2023 pela especialista Cristina Paschoalato, foi inicialmente formulado para identificação do composto em etanol combustível, mas agora foi adaptado para uso em bebidas, oferecendo uma solução rápida, simples e de baixo custo.
Uma solução inovadora no combate à adulteração
O kit de teste utiliza um método colorimétrico com o reagente de Schiff, um composto químico amplamente utilizado para identificar a presença de aldeídos. Essa técnica permite que os analistas determinem concentrações de metanol em bebidas, o que é essencial para a segurança dos consumidores. A professora de Engenharia Química da Unaerp, Márcia Maísa de Freitas Afonso, enfatiza que este procedimento pode ser um importante aliado no combate à venda de produtos tóxicos e na adulteração de bebidas.
“O reagente já existe; nós apenas desenvolvemos uma metodologia que utiliza um espectro para analisar a quantidade de metanol presente no etanol”, afirma a professora.
Processo de detecção em etapas
O método contempla três etapas para detectar a presença de metanol. A primeira fase envolve a oxidação da amostra com a adição de 1 ml de permanganato de potássio, um agente oxidante. Na sequência, ácido oxálico é adicionado para remover a coloração roxa gerada no passo anterior. Finalmente, o reagente de Schiff é utilizado, reagindo com o formaldeído, que é o produto da oxidação do metanol.
Felipe Alexandre Gonçalves, aluno do curso de Engenharia Química, detalha: “O reagente de Schiff é composto por três ingredientes principais: ácido sulfúrico, metabissulfito e fucsina, e ganha cor ao reagir com o formaldeído.” Após a conclusão do teste, o líquido resultante apresenta uma coloração roxa, sinalizando a presença de metanol.
Eficácia em líquidos incolores
O teste é especialmente rápido e leva cerca de 30 minutos para fornecer um resultado em bebidas que são incolores, como cachaça e vodka. Márcia observa que, embora o método tenha sido inicialmente desenvolvido para etanol, ele se mostra particularmente eficaz em líquidos incolores.
“Com bebidas coloridas, como uísque e gin, ainda não temos um estudo conclusivo que prove a eficácia do método,” complementa. O potencial do teste, entretanto, pode ajudar a salvar vidas, considerando o aumento de intoxicações por metanol reportados em diversas regiões.
O risco de intoxicação e a situação atual
O metanol é reconhecido por sua alta toxicidade, e mesmo a ingestão de pequenas quantidades pode causar dores severas no fígado, efeitos nocivos ao cérebro e ao sistema nervoso, além do risco de cegueira e morte. Somente em São Paulo, 25 casos de intoxicação por metanol foram confirmados até agora, com mais de 160 outras investigações em andamento. Um caso trágico ocorreu em Cajuru, onde a morte de um jovem está sendo investigada em conexão com a ingestão de bebidas adulteradas.
As forças de segurança também intensificaram as fiscalizações em estabelecimentos locais. Recentemente, em Jaboticabal, mais de mil garrafas foram apreendidas em uma adega e supermercado, e 162 garrafas de bebidas falsificadas foram descobertas em operações na Rodovia Brigadeiro Faria Lima.
Em resposta a esses incidentes, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto entrou em ação, contribuindo com análises de casos de intoxicação e recebendo duas mil ampolas de etanol absoluto, que pode servir como antídoto para o metanol.
Conclusão
O método desenvolvido pela Unaerp representa um avanço significativo na segurança alimentar e na saúde pública no Brasil. Com a sua implementação, espera-se que as autoridades possam realizar um monitoramento mais eficiente das bebidas alcoólicas e, assim, prevenir mais tragédias relacionadas à intoxicação por metanol.
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