No município de Soure, na Ilha de Marajó, crianças se divertem nadando com búfalos em áreas alagadas, atividade que mistura lazer e prática de adestramento dos animais, símbolo da cultura local. As crianças, além de brincar, ajudam a cuidar dos búfalos, que representam mais do que uma tradição, mas também uma atividade econômica e cultural da região.
Plano para centro de estudos do búfalo no Marajó
A família proprietária da Fazenda e Empório Mironga planeja a criação do Centro de Estudos da Bubalinocultura, uma “universidade do búfalo” dedicada à pesquisa de genética, manejo, inovação e aproveitamento integral do animal. Considerado o maior rebanho do Brasil, com estimativas entre 650 mil e 800 mil búfalos, o Marajó tem uma forte ligação com esses animais, utilizados na gastronomia, transporte e segurança pública.
De acordo com Carlos Augusto Gouvêa, conhecido como Tonga, “nós precisamos de gente para estudar melhor o búfalo: melhoramento genético, valor do leite, couro, carne, manejo e questões sanitárias. Este centro não seria privilégio apenas de veterinários, zootecnistas ou biólogos; envolveria outras áreas, como tecnologia de alimentos, turismo e medicina”.
Turismo e valorização familiar
Enquanto o projeto da universidade ainda não foi concretizado, a família tem organizado a “Vivência Mironga”, turismo pedagógico iniciado em 2017 que permite aos visitantes conhecerem o cotidiano da fazenda, a produção de queijo artesanal de leite de búfala e práticas agroecológicas. Em 2025, o local recebeu um recorde de 400 visitantes em um só mês, reforçando o potencial turístico da região.
O queijo do Marajó, produzido com técnicas passadas de geração em geração, conquistou reconhecimento oficial com a inscrição da Indicação Geográfica pelo INPI. A família participou da construção da legislação sanitária específica para o queijo artesanal, que desde 2013 passa por inspeções oficiais.
Culinária afetiva e cultura local
O Café Dona Bila, em Soure, é um exemplo da valorização cultural com pratos que fazem ligação afetiva com a história da ilha. Sob a liderança de Lana Correia, o espaço combina gastronomia nordestina, ingredientes regionais como queijo marajoara e carne de búfalo, e uma atmosfera acolhedora que remete à infância e às tradições familiares.
Para a próxima edição da COP30, que acontecerá em Belém, Lana criou pratos como o Cuscuz de Murrá, feito com filé de búfalo, e o Cuscuz Praia do Amor, com camarão regional e queijo do Ilha de Marajó, destacando ingredientes locais na gastronomia e na cultura regional.
Desafios ambientais da bubalinocultura
Apesar de seu valor cultural e econômico, a produção de derivados do búfalo enfrenta desafios ambientais importantes. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), de 2023, a pecuária é responsável por uma das maiores emissões de gases de efeito estufa no Brasil, especialmente pelo manejo de bovinos e búfalos, que emitem metano durante a digestão.
O controle e o manejo sustentável dos búfalos podem ser temas de estudo do futuro centro de pesquisa, para equilibrar a tradição com a preservação ambiental. A redução da emissão de gases será uma das principais agendas da COP30, a ser realizada em novembro em Belém.
*A equipe de reportagem da Agência Brasil viajou a convite do Sebrae.