A interação entre a geração Z e tecnologia sempre foi intensa, e isso não é diferente quando se trata de planejamento de viagens. Muitos jovens, incluindo viajantes como Madison Rolley, têm adotado o ChatGPT como uma espécie de agente de viagens virtual. Em uma época onde a informação é democratizada pela tecnologia, a confiança em assistentes virtuais traz tanto benefícios quanto desafios.
O caso de Madison Rolley
Quando a influenciadora de viagens Madison Rolley decidiu explorar a Europa por duas semanas, ela decidiu utilizar o ChatGPT para criar seu roteiro. Com um orçamento em torno de R$ 5.200, ela buscou recomendações para os melhores locais a visitar. A inteligência artificial, no entanto, teve um deslize. Ao chegar a um café em Split, na Croácia, Rolley descobriu que o local, na verdade, era um restaurante que só abria para o jantar. “Foi um pouco embaraçoso”, comentou.
Esse não é um caso isolado. A AI tem demonstrado a capacidade de “alucinar” locais e informações que não existem, levando a situações confusas, como apontou um estudo da SEO Travel. Este estudo revelou que mais da metade dos itinerários gerados por AI sugeriram atrações que estavam fechadas ou com horários incompatíveis. Um exemplo notável foi de um casal de idosos na Malásia que viajou mais de 290 km para visitar um teleférico montanhoso, apenas para descobrir que a atração era uma invenção da IA.
Riscos e aprendizados
A influenciadora de viagens Chaimae Lebyed, do Marrocos, também foi afetada por esse tipo de erro. O ChatGPT informou que ela não precisaria de visto para entrar em Fiji, mas duas dias antes de sua partida, percebeu que precisaria solicitar um. Como era tarde demais, ela teve que cancelar a viagem. Apesar do revés, Lebyed não desistiu da ferramenta. “Eu ainda uso o ChatGPT para planejar minhas viagens, pois é ótimo para ideias e rotas, mas agora sempre confirmo informações essenciais em sites de embaixadas”, explicou.
Na Grã-Bretanha, o uso de IA para planejamento de viagens dobrou no último ano, especialmente entre os jovens, com 18% dos profissionais de 25 a 34 anos relatando já ter utilizado a tecnologia. No entanto, não são apenas os mais jovens que se deixam enganar por essas informações, como demonstrou o caso de Mark Pollard, um criador de conteúdo australiano que foi impedido de entrar no Chile por não ter verificado a necessidade de visto.
A evolução da tecnologia de IA
O fenômeno da criação de destinos fictícios foi exemplificado por uma estratégia de marketing que inventou a cidade de “Snackachusetts”. O que começou como uma brincadeira se materializou em pesquisas reais em poucos dias, reforçando a necessidade de verificação das informações geradas por IA. De acordo com Manick Bhan, CEO da Search Atlas, essa situação mostrou como as AI podem se confundir facilmente ao tratar informações não verificadas como factuais.
Para Anil Doshi, pesquisador de IA na UCL, a confiança excessiva nas informações do ChatGPT pode ser explicada pelo comportamento psicológico humano de seguir sugestões que já mostraram ser úteis. No entanto, ele comenta que a tecnologia está em constante evolução. “Estamos progredindo para um modelo que pode acessar dados em tempo real, oferecendo dados concretos e atualizados,” disse.
Na visão de Michael Reece, chefe de marketing da Berkeley Travel, o ChatGPT pode ser um bom ponto de partida, mas não substitui a experiência e o conhecimento personalizado que um agente de viagens pode oferecer. “Em nosso campo, relações pessoais são fundamentais para garantir as melhores experiências,” afirmou.
Confirme antes de seguir o itinerário
Se você está pensando em quais atrações visitar durante sua próxima viagem, o ChatGPT pode ser uma ferramenta útil para organizar suas ideias, mas é essencial fazer a devida diligência antes de seguir um roteiro gerado por IA. “Você não vai querer estar na Espanha procurando por um hotel que nem existe, certo?” finalizou Doshi, ressaltando a importância da verificação das informações.