A insegurança alimentar no Brasil não se restringe às pessoas desempregadas, atingindo também uma parcela significativa de trabalhadores. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE, 20,75% dos lares com responsáveis empregados enfrentam dificuldades de acesso à alimentação adequada. São cerca de 9,9 milhões de domicílios nesta condição, com episódios de fome ou preocupações relacionadas ao futuro.
Número de famílias com insegurança alimentar em alta
Os dados revelam que, mesmo entre os responsáveis com vínculo formal de emprego, parte significativa das famílias sofre com restrições alimentares. O grupo de empregados domésticos lidera essa lista, com mais de um terço (37,74%) de suas famílias enfrentando algum tipo de insegurança alimentar. Mulheres negras, que representam 69,9% do setor de serviços domésticos, também estão entre os grupos mais vulneráveis nesta questão, já que 70,4% dos domicílios com insegurança alimentar têm responsáveis negros, sendo 54,7% pardos e 15,7% pretos.
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Famílias lideradas por mulheres e trabalhadores de baixa renda
Outro dado preocupante é que 59,9% dos lares com insegurança alimentar são chefiados por mulheres. Além disso, os grupos com menor renda estão mais expostos, já que 71,9% dos responsáveis por domicílios em situação de insegurança grave ganhavam até um salário mínimo em 2024. Para esses responsáveis, a renda per capita geralmente não ultrapassa um salário, o que reforça a relação direta entre renda baixa e risco de fome.
“Quanto menor o rendimento, maior a vulnerabilidade ao muito ou à total privação alimentar”, explica Maria Lucia Vieira, gerente da pesquisa. Os programas sociais, incluindo transferências de renda e ações específicas de alimentação, são apontados como fatores de auxílio. Ainda assim, a desigualdade racial e de gênero reflete no aumento do risco de insegurança alimentar, reforçando o impacto social estruturado no país.
Infográfico: diferenças por ocupação e raça
A classificação da insegurança alimentar é feita pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que define quatro níveis: segurança, insegurança leve, moderada e grave. Entre os critérios estão a redução no consumo de alimentos e a preocupação quanto ao acesso no futuro.
Dados indicam que a insegurança alimentar grave, que inclui a fome entre crianças, se enquadra em 4,2% das famílias, enquanto 15,2% vivem em situações de insegurança moderada ou leve. A maior vulnerabilidade está entre trabalhadores sem carteira assinada, trabalhadores autônomos ou de setores mais precarizados.
Perspectivas e ações contra a fome
O combate à insegurança alimentar, que há anos acompanha a trajetória do Brasil, ganhou destaque na agenda oficial após o país deixar o Mapa da Fome da ONU em 2022, mas a persistência do problema revela desafios. Segundo especialistas, a relação direta entre renda, emprego e acesso à alimentação reforça a necessidade de políticas públicas integradas.
Programas de transferência de renda e melhorias no mercado de trabalho, associados à políticas de geração de emprego e renda, podem reduzir significativamente esses índices. A expectativa do governo é de que, com o fortalecimento dessas ações, seja possível diminuir ainda mais a incidência de fome em diferentes regiões do país.
Para entender melhor os critérios utilizados na análise da insegurança alimentar, acesse a reportagem completa.