No coração da Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ), um fenômeno inusitado está atraindo a atenção nas redes sociais: batalhas entre trabalhadores que são compartilhadas no perfil do Instagram chamado UFC Ceasa RJ. Com mais de 75 mil seguidores, a página exibe uma série de vídeos que documentam brigas que ocorrem em diferentes áreas do mercado. Esse ambiente, que deveria ser dedicado ao comércio e à distribuição de alimentos, se transforma em arena de combate, semelhante ao enredo do icônico filme “Clube da Luta”.
O dia a dia do Ceasa-RJ: mais que um lugar de trabalho
Localizada no bairro de Irajá, na Zona Norte do Rio, a Ceasa é a maior central de abastecimento do estado e a segunda da América Latina. Diariamente, mais de 60 mil pessoas, entre comerciantes, produtores e consumidores, transitam pelo espaço, que se caracteriza pela correria e pelo estresse. Um trabalhador que prefere permanecer anônimo compartilha que as brigas geralmente surgem por motivos banais, comuns em um ambiente onde a pressão é constante.
Motivos comuns para brigas
Os conflitos costumam acontecer entre carregadores de mercadorias, frequentemente motivados pelo uso dos corredores. “Um vem com o carrinho cheio e o outro com o vazio; a confusão começa quando um se nega a dar passagem”, explica o trabalhador. Além disso, disputas por clientes e preços também são recorrentes, especialmente entre os vendedores de produtos similares.
O fenômeno da rivalidade e da tensão é intensificado pelo caráter informal das interações no dia a dia, onde a testosterona e o estresse das horas de trabalho puxadas parecem alimentar uma cultura de confrontos.
Publicações em destaque: o UFC Ceasa RJ
O perfil UFC Ceasa RJ, que imita o nome da famosa liga de artes marciais mistas, se tornou um espaço onde as lutas são exibidas quase como uma forma de entretenimento. Os vídeos mostram trabalhadores lutando entre si em meio a frutas, verduras e outros produtos, com espectadores que acompanham e até apostam nas “lutas”. Embora muitos vejam humor na situação, os comentários também refletem uma crítica profunda às condições de trabalho enfrentadas pelos operários.
A recepção do público nas redes sociais
As reações nas redes sociais variam entre humor e preocupação. Algumas pessoas fazem brincadeiras sobre a situação, enquanto outros expressam inquietação em relação à segurança dos trabalhadores. “É a única profissão onde se pode lutar e não ser demitido”, comentou um usuário, enquanto outro disse: “Isso é um aviso de que as condições de trabalho precisam melhorar”.
Consequências e legislações
A presença de brigas frequentes em um ambiente de trabalho levanta questionamentos sobre a responsabilidade da Ceasa-RJ e das empresas que operam no local. Especialistas em direito trabalhista, como a advogada Sandra Morais, explicam que a empresa pode ser responsabilizada se houver falhas em garantir a segurança dos trabalhadores, principalmente se tiver conhecimento das brigas e não tomar medidas preventivas.
O que diz a administração da Ceasa
A administração da Ceasa repudia qualquer forma de violência e enfatiza que episódios isolados de confrontos não representam a rotina do mercado. Em uma nota oficial, a administração garante que a segurança no local é realizada por equipes privadas e a Polícia Militar. As reclamações sobre as condições de trabalho são levadas em consideração, embora as autoridades enfatizem que a maioria dos funcionários opera em um ambiente seguro e organizado.
Outros personagens do Ceasa
Além das brigas, o Ceasa é o lar de influenciadores que têm seus próprios perfis dedicados ao humor e à vida cotidiana no mercado. Wagner Ferreira, proprietário do perfil @ceasa_rj, já acumula mais de 350 mil seguidores no TikTok, onde compartilha vídeos que retratam a rotina profissional de maneira positiva e leve, contrastando com as publicações do UFC Ceasa RJ.
Embora a viralização das brigas no Ceasa tenha trazido um novo tipo de “celebridade” para o lugar, é vital lembrar que as relações e as condições de trabalho no mercado precisam ser constantemente avaliadas. A luta por melhores ambientes de trabalho e respeito deve estar no centro das conversas sobre o Ceasa e suas práticas.