A recente publicação da Exortação Apostólica do Papa Leão XIV, intitulado “Dilexi te”, marca um novo momento na doutrina social da Igreja Católica, abordando temas como a caridade e o amor pelos pobres. Este documento se apresenta como uma resposta às incertezas da atualidade, oferecendo um farol de esperança e orientação em tempos de indiferença e individualismo.
O contexto da Exortação “Dilexi te”
O Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, expressou sua profunda alegria e gratidão pela nova Exortação, ressaltando que o Papa Leão XIV não se propõe a criar uma nova doutrina, mas sim a retomar as bases da tradição da Igreja, especialmente na esteira do trabalho de seu predecessor, Papa Francisco.
Com “Dilexi te”, o Papa nos convida a um encontro transformador com a realidade da pobreza, afastando a ideia de que os pobres são meros “problemas sociais”. Ao invés disso, ele os apresenta como a “própria carne de Cristo”, desafiando-nos a reconhecer sua dignidade e a importância da justiça social em nossa prática religiosa.
O vínculo entre fé e justiça social
A Exortação se fundamenta na Palavra de Deus, reafirmando que a opção preferencial pelos pobres não é uma criação recente, mas uma escolha divina que permeia toda a história da salvação. A partir do Antigo Testamento, onde Deus demonstra preocupação com os oprimidos, até a vida e ensinamentos de Jesus, o Papa enfatiza que a pobreza é um aspecto central da experiência cristã.
O Santo Padre nos lembra que a pobreza de Cristo não foi apenas um evento biográfico, mas uma escolha teológica significativa. Jesus, ao se fazer pobre, revela um Deus que se identifica com os marginalizados e excluídos. Essa ligação íntima entre a vida de Jesus e a experiência do sofrimento nos convida a repensar como vemos e tratamos os pobres.
Um caminho de conversão e responsabilidade
Na reflexão do Papa Leão XIV, a verdadeira caridade vai além da mera assistência; ela é um ato de amor que nos aproxima de Cristo. A grande cena do Juízo Final, em que seremos avaliados por nossas ações, reafirma que a caridade é a chave para o Reino dos Céus. O Papa nos convida a examinar nossas motivações e a buscar uma verdadeira conversão do coração frente às necessidades dos outros.
Um dos principais desafios destacados na Exortação é a dureza do coração e a indiferença social. O Papa alerta que a solução para as injustiças não é apenas a distribuição de riquezas, mas uma transformação interior que nos leve a ver os pobres como irmãos e irmãs em Cristo. Ele nos convida a refletir sobre a parábola do bom samaritano, questionando com qual dos personagens nos identificamos em nossas atitudes diárias.
A crítica à ‘mundanidade espiritual’
A crítica do Papa à “mundanidade espiritual” pontua que práticas religiosas vazias e discursos que separam a fé da vida prática são insuficientes. Segundo Leão XIV, a verdadeira fé deve se manifestar em atos concretos de amor e serviço. Ele alerta que ortodoxias que não se traduzem em prática efetiva de caridade são, na verdade, uma forma de fé morta.
O Papa também destaca que os pobres não são apenas objeto de caridade; eles têm muito a ensinar. A convivência com os marginalizados pode nos libertar de um egoísmo e de uma vida centrada no materialismo. Este intercâmbio de dons gera um aprendizado que transforma e enriquece nossas vidas espirituais e comunitárias.
Um chamado à santidade
Por fim, “Dilexi te” é um clamor à santidade, não entendida como algo distante, mas como a capacidade de amar e servir a Cristo na pessoa dos pobres. A Exortação serve como um guia para que todos nós, como comunidade de fé, possamos repensar nossas prioridades e ações, sempre à luz do Evangelho.
Ao acolher este ensinamento com corações abertos, que possamos nos deixar guiar pelo amor de Cristo e agir em favor dos necessitados, tornando nossa Igreja um lar para todos, especialmente os mais pequenos do Reino. A Virgem Maria, Mãe dos Pobres, nos inspire e acompanhe neste caminho de conversão e serviço.
Essa Exortação Apostólica é, assim, um convite para ser uma Igreja em constante diálogo e ação social, sempre atenta às vozes dos que clamam por justiça e dignidade.