Recentemente, uma descoberta nostálgica virou manchete ao se revelar uma entrevista inédita de John Lennon, gravada em 1975 e que traz à tona a paranoia do ex-Beatle em relação à vigilância do governo americano sobre sua vida. O DJ Nicky Horne, da Boom Radio, recebeu de sua esposa uma caixa de fitas magnéticas que poderia facilmente ter sido descartada, mas que guardava um verdadeiro tesouro da história do rock.
A redescoberta de fitas históricas
Ao abrir a caixa de fitas, Horne se deparou com uma gravação que continha a conversa com Lennon, onde ele expõe seu medo de ser vigiado. “Eu sei a diferença entre o telefone normal quando atendo e muitos ruídos”, diz John na conversa, abordando a inquietação que o acompanhava à época. O músico, que se destacava não apenas por sua música, mas também por sua postura crítica em relação ao governo, sempre foi um alvo de interesse para os serviços de inteligência.
O impacto da vigilância
Durante a entrevista, que se deu após o jornalista Kenny Everett ter declinado a entrevista alegando que o tema seria “pesado demais”, Lennon fala sobre as experiências que o levaram a acreditar que estava sob vigilância: “Eu me sentia paranoico na época. Quem não estaria?”. Ele relatou que frequentemente via pessoas estranhas do lado de fora de sua casa e acreditava que o governo estava ativamente rastreando seus movimentos. “Eu entrava no carro e eles estavam me seguindo, sem esconder nada. Eles queriam que eu visse que estava sendo seguido”, compartilha, trazendo um forte elemento de desespero e vigilância à sua narrativa.
Sociedade em tensão na década de 70
A década de 1970 foi marcada por tensões sociais e políticas intensas nos Estados Unidos, e Lennon, com suas letras e atitudes provocativas, se tornou um alvo especialmente sensível. A sua crítica à administração Nixon, particularmente em canções como “Gimme Some Truth”, o colocaram na lista de vigilância da CIA. Ele menciona, “Desde que lancei Gimme Some Truth, em 1971, eu sabia que estava sendo observado”. A conversa também toca em outros artistas que enfrentaram dificuldades semelhantes por causa de suas crenças e posicionamentos, como Mick Jagger e Paul McCartney. “Mick teve que se esconder em bueiros para conseguir fazer turnês com Keith Richards”, lembra.
Um retrato íntimo de um ícone do rock
As fitas não apenas expõem a paranoia de Lennon, mas também oferecem uma visão mais pessoal de um dos ícones mais famosos da música. Horne relembra como Lennon o recebeu na sua casa, o Dakota Building, em Nova York, onde interessou-se em criar um ambiente acolhedor, oferecendo biscoitos caseiros e levando Horne a uma sala decorada de maneira minimalista, com um piano branco e um telescópio voltado para o rio Hudson. Os dois se sentaram no chão branco, longe dos sofás, e conversaram sobre a vida, a música e o peso das expectativas.
Reflexões sobre a fama e legado
Um dos momentos mais tocantes da entrevista ocorre quando Lennon reflete sobre a crítica recebida pelos Beatles e seus álbuns solo. “Como alguém pode decidir que Imagine é o melhor álbum que farei? Tenho apenas 34 anos e posso ter mais 60 pela frente”, pergunta, ciente, porém, da fragilidade da vida. Infelizmente, ele não sabia que sua trajetória seria interrompida apenas cinco anos depois, em 1980.
Além da paranoia, a entrevista com Horne apresenta Lennon em um estado de introspecção, tentando equilibrar sua vida pessoal em meio ao tumulto da fama e da vigilância governamental. Este material recém-descoberto não só enriquece o legado de um artista, mas também ressoa com questões atuais sobre privacidade e liberdade de expressão.
A redescoberta dessas fitas é um lembrete de que, por trás das estrelas, existem seres humanos que enfrentam desafios reais. Entretanto, a história de Lennon se tornou um marco não apenas na música, mas também nos debates sobre direitos civis e a ética da vigilância governamental.