A decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), de indicar o senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) transformou uma das principais bandeiras do governo Lula em um novo capítulo de disputa política. A escolha elevou a tensão no Palácio do Planalto sobre a vitrine para a campanha à reeleição em 2026. A preocupação se dá porque o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), rival histórico de Renan, foi relator do tema na Casa — e ambos buscam o protagonismo sobre o texto.
Polêmica sobre a tramitação do projeto do IR
O projeto aprovado na semana passada pela Câmara, relatado por Lira, eleva a faixa de isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais, concede reduções proporcionais a rendas entre R$ 5 mil e R$ 7.359 e impõe alíquota mínima de até 10% para contribuintes com rendimento superior a R$ 50 mil por mês. A mudança, uma promessa de campanha, tem um impacto estimado de R$ 30 bilhões anuais e pretende beneficiar cerca de 11 milhões de pessoas.
No Senado, Alcolumbre confirmou que a proposta será analisada apenas pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), presidida por Renan, antes de seguir ao plenário. Renan já anunciou que fará um calendário de debates envolvendo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, além de especialistas convidados.
Reação de Arthur Lira e expectativas para o futuro
Poucas horas após a confirmação do nome de Renan para a relatoria, Arthur Lira divulgou uma nota pedindo que o Senado não transforme a discussão em um embate político. “Que no Senado o projeto do IR seja relatado de forma responsável. O texto que está pronto foi construído com muito trabalho e diálogo, inclusive com o governo, e aprovado na Câmara por unanimidade dentro do prazo”, afirmou Lira, enfatizando a necessidade de evitar politicagem.
O clima de disputa foi intensificado pela movimentação de Lira e pela articulação de Renan para a aprovação de um projeto paralelo na CAE. Essa movimentação foi vista como uma pressão para destravar a tramitação do texto principal na Câmara. Enquanto isso, o governo se preocupa com a possibilidade de atrasos na aprovação da proposta, crucial para reforçar sua imagem e sua agenda econômica antes da próxima eleição.
A disputa entre Renan e Lira e suas implicações regionais
O embate entre Renan e Lira não se limita apenas à esfera federal, mas também reverbera na política alagoana. Ambos são candidatos a concorrer às vagas ao Senado nas eleições de 2026, o que intensifica ainda mais a rivalidade entre eles. O Planalto tem tentado equilibrar as forças em Alagoas para evitar a fragmentação das bases de apoio nos dois lados, especialmente considerando a possibilidade de uma candidatura de João Henrique Caldas, atual prefeito de Maceió.
A relação entre Lira e Renan atravessa diferentes frentes de disputa, e ambos se encontram em lados opostos de importantes questões políticas. Enquanto Renan é um aliado de longa data de Lula e pai do ministro dos Transportes, Renan Filho, Lira tem consolidado sua influência como articulador na Câmara. O resultado dessa rivalidade pode determinar não apenas o destino do projeto de isenção do IR, mas também a dinâmica política em Brasília nos próximos meses.
Próximos passos e participação da sociedade
Renan Calheiros se comprometeu a conduzir uma tramitação célere do projeto, com audiências sucessivas para discutir e ajustar pontos técnicos do texto. Segundo ele, será elaborado um parecer até o final de outubro, após as audiências públicas. A expectativa é que, com a aprovação do IR, o governo possa não apenas alavancar a sua agenda econômica, mas também solidificar sua posição nas eleições futuras.
Com o avanço da tramitação no Senado, a participação da sociedade e de especialistas se torna fundamental para garantir que a proposta final atenda às necessidades da população. O Governo Lula vê na renovação da isenção do IR um trunfo não só no campo político, mas também na promoção de justiça social e alívio tributário. Como será o desfecho desta disputa ainda é uma incógnita, mas o cenário político brasileiro continua a ser palco de intensas movimentações e rivalidades.