O governo brasileiro iniciou uma estratégia para reduzir a dependência do setor de saúde dos Estados Unidos, após a sobretaxa de 50% imposta por Washington a produtos médicos brasileiros em agosto. A partir desta quinta-feira, o ministro Alexandre Padilha lidera uma missão ao Reino Unido, China e Índia, buscando ampliar parcerias estratégicas e abrir novos mercados para os produtos do setor.
Diplomacia e novos acordos em saúde
Durante a viagem, Padilha destacou que a iniciativa visa fortalecer a cooperação com os governos e o setor privado desses países, além de promover contratos de produção de medicamentos, vacinas e novas técnicas de diagnóstico. “Estamos aproveitando o momento do tarifaço para atrair investimentos e ampliar a produção nacional”, afirmou ao GLOBO.
Impacto do tarifazo nos EUA e alternativas de mercado
Queda nas vendas e consolidação da Europa e América Latina
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo) revelam que as exportações brasileiras para os EUA tiveram uma redução de 30,4% em setembro, atingindo US$ 21,2 milhões, o menor valor já registrado. Os segmentos mais afetados foram odontologia (-93,09%), reabilitação (-85,02%) e equipamentos médicos (-59,94%).
Enquanto isso, as vendas para a Europa cresceram 44,5%, com destaque para Espanha (+632,59%), França (+238,77%) e Suíça (+130,72%). Países da América Latina, como México (+28,34%) e Bolívia (+56,18%), também aumentaram suas compras.
Dependência e futuro da produção nacional
Para Larissa Gomes, da Abimo, o impacto imediato mostra a vulnerabilidade do Brasil em poucos mercados estratégicos. “Essa situação reforça a necessidade de ampliar nossa capacidade de produção local, especialmente de medicamentos e equipamentos de alta complexidade”, explicou.
O governo também aposta em uma política de incentivo à transferência de tecnologia por meio de joint ventures com China e Índia, buscando reduzir custos e fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Estudos apontam que, até 2030, a expiração de cerca de 1,5 mil patentes de medicamentos pode elevar em até 20% a oferta nacional e diminuir preços, refletindo em potencial de economia para o setor público.
Disbalance nas importações e perspectivas futuras
Atualmente, os EUA permanecem como o terceiro maior fornecedor de produtos de saúde ao Brasil, atrás de Alemanha e China. No último ano, as vendas Americanas totalizaram US$ 172,2 milhões, o que representa um aumento de 48% em relação a 2023, consolidando o papel do país em segmentos de ponta, como imunobiológicos e medicamentos inovadores.
Segundo a Abifina, o cenário pode evoluir com a expiração de patentes de produtos de alto valor financeiro, como o Trikafta e imunobiológicos da AbbVie, possibilitando maior oferta nacional e redução de custos no médio prazo.
Contexto diplomático e desafios internos
Padilha enfrenta uma crise diplomática com os EUA, que também imporam sanções ao ministro por sua atuação no programa Mais Médicos, e ao ministro Alexandre de Moraes, por questões políticas internas. A relação entre os países permanece tensa, embora a visita ao Reino Unido, China e Índia signifique uma tentativa de diversificar as alianças econômicas e tecnológicas.
Recentemente, o presidente Lula teve uma conversa telefônica com Donald Trump, focada em temas comerciais e econômicos, sem menção às controvérsias diplomáticas que envolvem os dois governos.