Brasil, 8 de outubro de 2025
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Perdas de até 93% em COEs ligados à Ambipar e Braskem preocupam investidores

Investidores enfrentam perdas significativas em COEs relacionados às dívidas da Ambipar e Braskem, aumentando dúvidas sobre riscos e transparência

Investidores que adquiriram Certificados de Operações Estruturadas (COEs) ligados às dívidas da Ambipar e da Braskem relatam perdas que chegam a quase 93% do valor investido, conforme comunicados enviados às suas assessorias de investimento. O colapso desses produtos, comercializados principalmente pela XP Investimentos e pelo BTG Pactual, tem gerado frustração e levantado debates sobre a transparência e os riscos envolvidos nesses investimentos.

Entendendo os COEs de crédito e os riscos associados

Os COEs são produtos financeiros que combinam diferentes ativos, como ações, moedas, índices e taxas de juros, em uma única aplicação, permitindo acompanhar o desempenho de múltiplos ativos ao mesmo tempo. No caso dos produtos ligados à Ambipar e Braskem, tratavam-se de COEs do tipo crédito, ou seja, baseados em títulos de dívida dessas próprias empresas. Quando a situação financeira do emissor se deteriora, o valor desses títulos no mercado tende a cair, podendo gerar perdas expressivas para os investidores.

Mecanismos de encerramento antecipado e perdas adicionais

Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, explica que esses produtos possuem mecanismos que podem fazer a aplicação encerrar antes do prazo previsto. “Se os títulos usados como base perderem valor, ou se a empresa emissora passar por dificuldades financeiras, o emissor pode acionar um gatilho de recuperação e pagar ao investidor um valor inferior ao inicialmente investido”, afirma. Dessa forma, quem tinha COEs da Ambipar recebeu apenas 6,88% do valor, enquanto aqueles ligados à Braskem tiveram resgates entre 26,62% e 36,97%.

Condições contratuais e a questão da proteção

Conforme relatos em plataformas como Reclame Aqui e Reddit, a promessa de “capital protegido” gerou confusão entre alguns investidores. Marcus Valverde, sócio do escritório Marcus Valverde Sociedade de Advogados, alerta que essa proteção depende da saúde financeira do emissor e das cláusulas contratuais. “Se o emissor não conseguir cumprir suas obrigações, o investidor pode perder parte ou todo o valor aplicado, especialmente se o resgate for feito antes do vencimento”, explica.

Além disso, muitos investidores encontram dificuldades para resgatar seus recursos antecipadamente sem prejuízo, estando sujeitos às cláusulas de liquidez impostas pelos contratos.

Falta de regulação e o risco sem cobertura do FGC

Outra preocupação é que os COEs não têm cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o que significa que não há mecanismo externo para recuperação em caso de inadimplência do ativo de referência. Como consequência, as perdas podem ser irreversíveis, como evidenciam os relatos de prejuízos de milhares de reais, dependendo do valor investido.

Segundo dados da B3, o volume de COEs negociados no Brasil atingiu R$ 90 bilhões em 2024, com crescimento de 16% em relação ao ano anterior. Destes, aproximadamente 15% são COEs de crédito — o perfil que expôs investidores às perdas das empresas Ambipar e Braskem.

Recomendações e o papel da fiscalização

Especialistas recomendam que investidores que considerem aplicar em COEs de crédito solicitem informações detalhadas aos assessores, como cláusulas de vencimento antecipado e critérios de risco de crédito. Jeff Patzlaff enfatiza que é fundamental entender cenários de risco, índices de recuperação e o que pode ativar o vencimento antecipado, além de verificar a documentação envolvida.

O G1 entrou em contato com XP Investimentos e BTG Pactual, mas até o momento não obteve respostas. A expectativa é de que as instituições se posicionem nos próximos dias sobre as perdas relatadas.

Impacto e necessidade de maior transparência

Para Marcus Valverde, a situação evidencia a urgência de uma revisão regulatória pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a fim de reforçar a transparência e proteção ao investidor. Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa (IE), reforça que esses produtos foram oferecidos muitas vezes sem a devida compreensão do risco por parte do público varejista. Ele avalia que também é necessário fortalecer normas que garantam maior alinhamento ao perfil do investidor, além de exigir auditorias independentes e relatórios de risco mais objetivos.

A importância da conscientização do investidor

Os especialistas também alertam que os investimentos em COEs, sobretudo de crédito, apresentam riscos elevados e que a ausência de cobertura do FGC aumenta o cuidado que o investidor deve ter na escolha desses produtos. “A complexidade desses produtos requer uma compreensão aprofundada e uma avaliação cuidadosa, pois os prejuízos podem ser elevados, especialmente em um cenário de crise”, conclui Patzlaff.

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