O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump realizaram nesta segunda-feira (6/10) a primeira videoconferência oficial, marcando uma nova fase na aproximação entre Brasil e Estados Unidos. A conversa, de 30 minutos, abordou questões comerciais, tarifas sobre produtos brasileiros, além de temas diplomáticos e possíveis encontros futuros.
Tarifa de 50% sobre produtos brasileiros afeta comércio bilateral
Durante a videoconferência, Trump admitiu que os EUA estão “sentindo falta” de produtos brasileiros afetados pela tarifa de 50% imposta por seu governo, com destaque para o café. Segundo informações apuradas pela BBC News Brasil, o aumento nos preços do café nos EUA se intensificou após a tarifa, influenciando a inflação na maior economia mundial.
Dados do escritório americano de estatísticas indicam que, em agosto, o preço do café nos EUA subiu 3,6%, maior alta mensal em quatorze anos, e acumula alta de 20,9% em um ano — o maior desde 1997. As reportagens do canal Fox Business e CNN atribuem o aumento às questões climáticas e à tarifa americana sobre o produto brasileiro, além de mencionar tarifas menores impostas à Colômbia.
Impacto nas exportações e balanço comercial
As exportações brasileiras de café para os EUA caíram 20,3% em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2024, totalizando US$ 113,8 milhões. A quantidade exportada quase foi pela metade, refletindo o impacto direto da tarifa elevada, que elevou as importações americanas de café em 14,3% e resultou em um déficit de US$ 1,77 bilhão na balança comercial bilateral.
Além do café, as exportações totais do Brasil para os EUA também recuaram, com quedas de 31,5% em valor, enquanto as importações brasileiras cresceram 14,3%. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), informou que as vendas americanas caíram para US$ 2,58 bilhões em setembro, enquanto as compras brasileiras aumentaram para US$ 4,35 bilhões.
Diálogo político e perspectivas de normalização
Na videoconferência, Lula pediu a Trump a retirada da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e também solicitou a suspensão de medidas restritivas contra autoridades brasileiras, como sanções financeiras e cassação de vistos relacionados ao ministro Alexandre de Moraes, do STF. O presidente destacou que o contato foi “amigável” e que há interesse em uma aproximação maior.
De acordo com a assessoria do Palácio do Planalto, ambos concordaram em se encontrar presencialmente em breve. Lula também convidou Trump para participar da COP30, em Belém, e comentou sobre a possibilidade de visitar os EUA. Trump, por sua vez, indicou que as negociações continuarão com seus assessores, liderados pelo secretário de Estado, Marco Rubio.
Contexto e próximos passos
O relacionamento bilateral, que em 2024 enfrentou tensões econômicas, agora apresenta sinais de retomada de diálogo diplomático. Lula reforçou a importância de fortalecer os laços históricos entre os dois países, destacando que o Brasil é um dos três países do G20 com superávit na balança de bens e serviços com os EUA.
A expectativa é que novas conversas e encontros presenciais sejam agendados, buscando equilibrar relações comerciais e diplomáticas e minimizar os efeitos das tarifas sobre o mercado brasileiro, especialmente no setor de café, de grande relevância para a economia nacional.