No último domingo, a Comunidade de Santo Egídio promoveu um importante encontro inter-religioso em Nampula, onde líderes cristãos e muçulmanos uniram vozes para clamarem por um fortalecimento da paz espiritual e social em Moçambique. Sob a temática “Apostar na Paz”, o evento celebrou o XXXIII aniversário da assinatura do Acordo Geral de Paz, realizado em Roma em 4 de outubro de 1992. A festa também marcou o cinquentenário da independência nacional, reforçando a necessidade de reconciliação e convivência pacífica entre os moçambicanos.
A importância do diálogo na construção da paz
Américo Sardinha, representante da Comunidade de Santo Egídio, destacou em sua fala que “a guerra é uma loucura” e que “a paz deve ser cultivada todos os dias”. Ele recordou o significado do Acordo de Roma, que reestabeleceu a paz em Moçambique, permitindo que o povo voltasse a sonhar. Ao enfatizar que a verdadeira solução para os conflitos não reside nas armas, mas no diálogo, Sardinha fez um apelo à conscientização sobre a era da força que vivemos: “O bem comum e a vida humana são frequentemente negligenciados.”
A mensagem de Sardinha foi complementada pelo testemunho inspirador do jovem congolês Floribert Bwana Chui, membro da Comunidade beatificado por sua resistência à corrupção. Ele exortou os presentes à reconciliação e à necessidade de um “desarmamento interior”, refletindo: “Devemos desarmar as mãos e os corações e resistir à tentação da violência.”
Paz espiritual como base da convivência
O Sheik Abdul Magid, Delegado Provincial do Conselho Islâmico de Moçambique, também fez considerações profundas sobre o tema da paz. Em sua declaração, ele ressaltou que “a verdadeira paz nasce de Deus”, reafirmando que um dos nomes de Deus é Paz. Magid argumentou que muitos acordos de paz falham devido à falta de compromisso espiritual, afirmando que: “Assinamos acordos entre homens, mas declaramos guerra contra Deus. A primeira paz deve ser com o Criador.”
Em seus pronunciamentos, o Sheik enfatizou que a raiz dos problemas sociais está na falta de paz espiritual. Ele conclamou os presentes a moldarem seus corações para a paz, acreditando que assim, todos os outros esforços se tornariam mais simples. Abordando a importância da convivência pacífica entre diferentes religiões em Moçambique, Magid elogiou a fraternidade promovida pela Comunidade de Santo Egídio e pelas várias instituições religiosas, destacando que: “Vivemos num país onde cristãos e muçulmanos convivem lado a lado, algo que em muitos lugares do mundo seria impensável. É uma conquista que devemos valorizar e consolidar.”
O papel dos líderes religiosos na sociedade
Na perspectiva do Sheik, os líderes religiosos têm um papel crucial na orientação moral da sociedade. “Somos nós que devemos orientar os políticos no caminho da justiça, da honestidade e do respeito ao Criador”, declarou. O encontro inter-religioso contou com a presença de diversas autoridades religiosas, civis e membros de várias confissões, todos unidos com o compromisso de promover a paz e o diálogo inter-religioso.
Ao final do evento, os participantes reafirmaram a importância de manter viva a herança do Acordo de Roma, desejando que o reencontro de diferentes crenças seja um sinal de esperança não apenas para Moçambique, mas também para todo o continente africano.
Encontro inter-religioso em Nampula, Moçambique (Cremildo Alexandre, Rádio Encontro)
Este encontro se mostra essencial não apenas como uma celebração, mas como um forte lembrete do papel que todos têm na promoção do diálogo e da paz, elementos fundamentais para a construção de um futuro harmonioso e justo em Moçambique e além.
