A literatura pode ser uma poderosa ferramenta de proteção, especialmente quando o assunto é a vulnerabilidade das crianças ao abuso sexual. A escritora e ativista Mônica Mota, que transformou sua dolorosa experiência de vida em um projeto educativo, lançou o livro “Menino Bernardo”. Esta obra, apresentada na Casa de Saberes Cego Aderaldo, em Quixadá, no Ceará, traz uma narrativa sensível que visa alertar sobre a violência sexual contra crianças com deficiência. Inspirada em uma conversa com o menino Vinícius, Mônica usa sua narrativa para iluminar a realidade cruel que muitas crianças enfrentam.
A história de Mônica Mota e sua missão
Mônica Mota não é apenas uma escritora; ela é uma sobrevivente e uma voz necessária para aqueles que não podem falar. Durante sua infância, Mônica foi vítima de abusos sexuais entre os seis e doze anos, e é sua experiência que a impulsiona a ajudar outras crianças em situações semelhantes. “Eu faço agora o que não tive na infância: eu não tive um adulto que protegesse meus direitos”, diz Mônica, refletindo sobre sua trajetória. Sua missão é clara: proporcionar a proteção que ela mesma não teve.
O livro “Menino Bernardo” retrata a vida de uma criança com deficiência física que é abordada por um adulto com intenções nefastas. A história ensina não apenas as crianças, mas também adultos, sobre como agir em situações de abuso. “O Bernardo sabe que não pode permitir que toque em seu corpo. A obra se transforma em um guia que orienta os adultos sobre como apoiar crianças e protegê-las,” explica Mônica.
O contexto alarmante da violência sexual infantil no Brasil
De acordo com o Atlas da Violência, quase 2.400 crianças e adolescentes com deficiência sofreram violência sexual no Brasil em 2023. Este número representa uma fração de um problema muito maior, onde as estatísticas indicam que crianças com deficiência têm uma probabilidade quase quatro vezes maior de serem vítimas de violência em comparação com seus pares. Os dados tornam evidente a urgência de ações educativas e a criação de protocolos de proteção.
Estudos apontam que a dependência de adultos para atividades cotidianas, o isolamento social e o estigma são fatores que aumentam a vulnerabilidade de crianças com deficiência. Além disso, muitos agressores são pessoas próximas, o que torna a identificação e denúncia extremamente difícil. “O que precisamos é de uma abordagem mais eficaz para proteger essas crianças. A literatura é um caminho viável para isso,” afirma Mônica.
Literatura como ferramenta de consciência e prevenção
Mônica acredita que a literatura pode ser uma forma leve de tratar um tema pesado. “Transformar um tema tão delicado em uma narrativa acessível e educativa é o meu objetivo. As ilustrações e a linguagem simples ajudam as crianças a entender o que é certo e o que é errado,” diz Mônica. O impacto dos livros pode ser significativo, criando um repertório de autoconhecimento e proteção nas crianças desde cedo.
Através de “Menino Bernardo”, Mônica também sublinha a importância da escuta e da observação dos sinais que as crianças dão sobre experiências de abuso. “Precisamos estar atentos ao comportamento dos pequenos. Muitas vezes, uma mudança de atitude pode ser um sinal de que algo está errado,” afirma.
O papel da sociedade na proteção das crianças
A proteção das crianças não deve ser responsabilidade apenas da família, mas de toda a sociedade. A literatura e a educação sexual são fundamentais na prevenção do abuso. “As crianças precisam saber que têm direitos e que podem falar sobre suas experiências. Identificar e denunciar são passos vitais para a proteção delas,” afirma Mônica. A conscientização sobre os sinais de abuso é crucial, e a formação de uma rede de apoio pode fazer toda a diferença na vida de uma criança em situação de vulnerabilidade.
Além do trabalho literário, Mônica Mota atua como assistente social no Instituto da Primeira Infância (Iprede), onde continua a suas atividades em defesa da infância. O alerta que ela faz é urgente: “Precisamos de um esforço coletivo para proteger nossas crianças. Cada um de nós deve fazer a sua parte.”.
Onde e como denunciar casos de violência contra crianças
Se você suspeita de um caso de abuso, é fundamental saber como agir. Denúncias podem ser feitas a qualquer delegacia de polícia, além de números de emergência como o Disque 100, que é anônimo. O apoio à denúncia é vital, e qualquer pessoa pode fazer a diferença ao agir em defesa das crianças.
Com “Menino Bernardo”, Mônica Mota não só lança um livro, mas também uma luz sobre um tema sombrio, instigando a sociedade a refletir e agir frente à violência sexual infantil. A proteção das crianças é uma responsabilidade de todos nós, e a educação é o primeiro passo nesse caminho.