O governo dos Estados Unidos anunciou, no mês passado, a implementação de uma taxa de US$ 100 mil para cada visto H-1B utilizado por empresas que contratam profissionais estrangeiros, reacendendo o debate sobre a dependência do setor de tecnologia de mão de obra estrangeira e o impacto no mercado de trabalho americano. A medida, promovida por Donald Trump, reforça antigas tensões entre a oferta de vistos e a proteção dos empregos locais.
Contexto e repercussão da nova taxa de US$ 100 mil para vistos de trabalho
Direcionada principalmente às empresas que utilizam o visto H-1B, uma das principais permissões para profissionais estrangeiros de alta qualificação, a nova política estabelece que cada concessão desse visto terá uma cobrança de US$ 100 mil, visando desencorajar o uso indiscriminado e prioritizar os profissionais com maiores salários. Segundo fontes oficiais, a medida busca proteger o mercado de trabalho interno, especialmente após um período de turbulências e aumento do desemprego nas áreas de tecnologia.
Impacto no mercado de trabalho e na preferência por trabalhadores estrangeiros
Kevin Lynn, ativista que lidera o Institute for Sound Public Policy, afirma que a iniciativa evidencia o fortalecimento das vozes contrárias à imigração qualificada. “Nossas vozes estão sendo ouvidas — e algumas estão realmente repercutindo agora”, declarou em entrevista. Lynn lembra que a crescente rejeição às contratações estrangeiras é impulsionada pelo cenário de instabilidade e desemprego nas áreas de tecnologia, especialmente após uma série de demissões desde 2022.
Repercussões na contratação de profissionais qualificados
Dados recentes indicam que, embora os vistos H-1B devam beneficiar profissionais altamente capacitados, eles também vêm sendo usados por empresas para funções rotineiras, muitas vezes com salários próximos à média nacional. Segundo estudos, a dependência dessa mão de obra estrangeira pode prejudicar a inclusão de profissionais nativos, especialmente aqueles com perfis semelhantes aos dos portadores do visto.
Consequências para trabalhadores nativos e estrangeiros
Relatos de profissionais de tecnologia evidenciam a crescente preocupação com a substituição por mão de obra estrangeira terceirizada. Um funcionário de design de interfaces, que pediu anonimato, afirmou que sua equipe foi eliminada após a contratação de trabalhadores com vistos H-1B, que passaram a ocupar as mesmas funções que ele desempenhava. “Levou mais de seis meses para encontrar um novo emprego”, relatou.
Esse cenário revela uma mudança no funcionamento do mercado de trabalho, onde o uso de vistos, apesar das justificativas de preenchimento de vagas especializadas, acaba incidindo sobre os empregos de profissionais americanos, sobretudo na área de tecnologia. Segundo Ronil Hira, professor de ciência política, muitas empresas também abusam do processo de concessão de residência permanente por meio do programa PERM, facilitando a substituição de empregados nativos por estrangeiros.
A reação do setor e o impacto político
Empresas do setor de tecnologia, incluindo gigantes como Facebook e Apple, já enfrentam investigações e processos judiciais relacionados ao uso de vistos H-1B. Entretanto, defensores do programa argumentam que essa mão de obra é fundamental para manter a competitividade e a inovação do país. Ainda assim, a proposta de aumento na taxa parece indicar uma mudança de postura do governo norte-americano, buscando limitar o benefício para os empregadores.
Para Lynn, a questão vai além das políticas de vistos: “A globalização é o tronco da árvore, e a terceirização, a subcontratação e os vistos H-1B são os galhos”. Essa relação interligada explica em parte o crescente debate político e público sobre imigração, empregos e economia em meio às mudanças recentes.
Especialistas como Kirk Doran, economista da Universidade de Notre Dame, indicam que, ainda que o programa H-1B beneficie a economia ao preencher lacunas de mão de obra qualificada, sua utilização muitas vezes não respeita as intenções originais, resultando em prejuízos para os trabalhadores locais e criando tensões no mercado de trabalho.
Para entender melhor as mudanças e o que elas representam para o futuro dos profissionais qualificados nos EUA, confira a análise completa no specialista em economia do Globo.