Com a aprovação da proposta de ampliação da isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) pelo Congresso, o governo mira impulsionar o consumo das famílias a partir de 2026. A mudança, que ainda depende de aprovação no Senado, prevê aumento do limite de renda para isenção de R$ 3.036 para R$ 5 mil mensais e redução da tributação para quem ganha até R$ 7.350, podendo beneficiar cerca de 10 milhões de contribuintes de classe média.
Impactos econômicos e ajustes no IRPF
A proposta inclui também o aumento da tributação para rendimentos superiores a R$ 50 mil por mês, buscando compensar a perda de arrecadação. Segundo a economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), essa recalibragem tende a elevar o consumo, já que os contribuintes impactados pela isenção e por descontos progressivos possuem maior propensão a gastar do que a poupar, especialmente os de renda mais baixa.
“As pessoas vão entrar já no início de 2026 com um salário com menos desconto de IRPF. Essas, com renda mais baixa, têm muito mais propensão a consumir do que quem terá aumento nas alíquotas. Os mais ricos, que já possuem capacidade de consumo, poupam mais, portanto o impacto no consumo deles será menor,” explicou a economista.
Previsões de crescimento e repercussão no PIB
Renan Martins, economista da consultoria 4intelligence, estima que a redistribuição da carga tributária possa elevar o PIB de 2026 em cerca de 0,3%, impulsionado por maior consumo. “Essa grande isenção beneficia aproximadamente 10 milhões de pessoas, que receberão um aumento de renda automático, propagando-se na economia, com aumento do PIB e redução do desemprego, porém com risco de pressão inflacionária,” afirmou Martins.
Segundo projeções, esse movimento pode resultar em um aumento de 0,3 ponto percentual na inflação medida pelo IPCA em 2026, podendo atingir até 0,7 p.p. em 2027, de acordo com dados da mesma consultoria. Especialistas do setor financeiro, como Flávio Serrano, do banco BMG, reforçam que o impacto na inflação será moderado, estimando aumento de 0,1 p.p.
Desafios e questões em debate
O projeto, aprovado na Câmara na quarta-feira, ainda enfrenta questionamentos sobre possíveis efeitos adversos na lucratividade das empresas devido à tributação de lucros e dividendos de alta renda, o que pode onerar o setor produtivo, conforme avalia a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Segundo a entidade, essa medida pode anular parcialmente o efeito positivo da reforma a longo prazo.
Além disso, há discussões sobre o impacto global, especialmente se fatores externos, como a valorização do real e o enfraquecimento do dólar, reduzirem a inflação e influenciarem as estratégias econômicas do governo e do Banco Central. O analista Roberto Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que a dinâmica do consumo nos primeiros meses de 2026 será decisiva para ajustes na política de juros.
Próximos passos e expectativas
A expectativa é que o Senado aprove a proposta nos próximos dias, consolidando o aumento do limite de isenção do IRPF para até R$ 5 mil, além de ajustes na tributação de rendimentos mais altos. Segundo o deputado Eliziane Gama, a tramitação poderá ser rápida, favorecendo a implementação no início de 2026.
Especialistas como Flávio Serrano ressaltam que o impacto final nas variáveis macroeconômicas dependerá de outras medidas de estímulo, políticas de juros e o nível de endividamento das famílias. O governo acredita que a expansão do consumo e o crescimento do PIB poderão ser positivos, desde que acompanhados de ações de controle inflacionário e de política monetária adequada.
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