A proposta orçamentária para o ano de 2026, apresentada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), sinaliza uma clara estratégia de aproximação com setores da população de menor renda. Em um ano eleitoral, Tarcísio pretende aumentar investimentos em programas sociais, articulação política e privatizações, ao passo que propõe cortes significativos em habitação e meio ambiente. Entre as novidades, a Secretaria de Desenvolvimento Social conta com um aumento expressivo de quase 50% dos recursos, passando de R$ 1,3 bilhão para R$ 1,9 bilhão em relação a 2025.
Aumentos e cortes no orçamento de 2026
Um dos principais destaques da proposta é o programa “Superação”, que visa ajudar famílias de baixa renda a se reintegrar ao mercado de trabalho, funcionando como uma alternativa ao Bolsa Família, do governo federal. O orçamento ainda precisa ser aprovado pelos deputados estaduais, que poderão propor modificações através de emendas até a votação final, que geralmente acontece em dezembro.
Segundo o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV, o crescimento do investimento em áreas sociais é uma forma de tentar reconquistar eleitorado próximo à gestão do presidente Lula. “É uma estratégia eleitoral para atingir um grupo social com o qual o governo não vem dialogando diretamente”, afirma Teixeira. Ele acrescenta que essa ação pode fortalecer as chances de Tarcísio, seja para concorrer à presidência ou buscar a reeleição no governo do estado.
Privatizações e parcerias em investimento
A proposta também inclui um expressivo aumento da verba destinada à Secretaria de Parcerias em Investimentos, responsável pelas privatizações e concessões no estado. O orçamento sugerido para essa secretaria é de R$ 11,6 bilhões, o que representa um crescimento de cerca de 45%. O governador busca reforçar sua imagem de gestor eficiente diante do setor público, destacando a importância das parcerias com o setor privado, que ele considera como uma forma de realizar obras necessárias enquanto economiza recursos públicos.
Adicionalmente, a proposta orçamentária apresenta R$ 83 bilhões em renúncias fiscais, que incluem isenções de impostos como ICMS e IPVA. Tarcísio justifica essas renúncias como resultado de variáveis externas à gestão e promete revisar essa política fiscal durante o processo eleitoral.
Articulação política e cortes nas áreas de habitação
Em termos de articulação política, a proposta também contempla um reforço na Secretaria de Governo e Relações Institucionais, que será chefiada por Gilberto Kassab. Para o próximo ano, são alocados R$ 1,8 bilhão para repasses e convênios com municípios através dessa pasta. Entretanto, esses recursos têm sido frequentemente redistribuídos para inflacionar verbas em outras áreas, de acordo com a prática dos últimos dois anos.
Por outro lado, o governador sugeriu cortes relevantes nas secretarias de Desenvolvimento Urbano e Habitação, com uma redução de 30,4%, e na Secretaria de Meio Ambiente e Logística, que verá um corte de 19,8%. Essas escolhas refletem uma política de austeridade em sectors menos populares, gerando preocupação entre ambientalistas e urbanistas.
Expectativas financeiras e prevendo o futuro
A proposta orçamentária apresenta um total de R$ 382 bilhões em receitas previstas para 2026, marcando uma elevação de 2,6% em comparação ao exercício atual. Contudo, esse aumento ainda está abaixo das expectativas de inflação do mercado, estimada em 4,8%. O governo atribui esse cenário a incertezas econômicas globais e a uma situação fiscal complicada no Brasil.
Além disso, o estado de São Paulo foi fortemente impactado pelo aumento de tarifas norte-americanas em exportações brasileiras, um fator que também causou um desgaste político para Tarcísio, especialmente devido a seu alinhamento com a gestão de Jair Bolsonaro. Muitas expectativas estão depositadas sobre a capacidade do governador de navegar essa situação complexa e formular um orçamento que atenda não apenas às necessidades emergentes, mas também à sua estratégia política a longo prazo.
Nos próximos meses, ficará evidente como os deputados estaduais reagirão a essa proposta e quais modificações serão realizadas antes da sua aprovação final, um passo crucial para a concretização das ambições de Tarcísio para 2026.