Na semana passada, os autores deste artigo testaram o Sora, um aplicativo de vídeos criado pela OpenAI que utiliza inteligência artificial para gerar clipes de forma rápida e inovadora. Lançado nesta semana, o app traz uma interface semelhante ao TikTok, permitindo que usuários criem, compartilhem e interajam com vídeos de IA, além de incorporar avatares e imagens pessoais.
Nem TikTok, nem Instagram: o Sora como uma rede social de IA
A tecnologia por trás do Sora estreou no ano passado, mas sua versão mais recente, mais rápida e capaz de incorporar a aparência do usuário, foi lançada nesta semana por convite. Após menos de um dia de uso, ficou claro que o Sora é mais do que um gerador de vídeos por IA: é uma rede social disfarçada, com feed de vídeos na interface, sistema de recomendações e possibilidade de seguir amigos, semelhante ao TikTok.
Segundo Rohan Sahai, líder de produto da OpenAI, a ideia é tornar essa tecnologia acessível a milhões de pessoas de forma social. “Achamos que a melhor maneira de levar essa tecnologia para as massas é por meio de algo um pouco social”, afirmou Sahai em entrevista. A plataforma permite criar vídeos ilimitados a partir de materiais protegidos por direitos autorais, o que pode gerar questões éticas e legais.
Potencial de criação e riscos de desinformação
O Sora possibilita gerar, com facilidade, representações em vídeo de pessoas e personagens — muitas vezes, de forma convincente. No entanto, essa capacidade levanta preocupações em relação ao aumento de fake news, golpes e utilização não autorizada de imagens públicas ou protegidas por direitos autorais.
Especialistas alertam que o aplicativo facilita a produção de deepfakes e pode acelerar a circulação de conteúdos falsos, especialmente em redes sociais como X (antigo Twitter), TikTok e Instagram. Rachel Tobac, CEO da startup de cibersegurança SocialProof Security, afirmou que “ele torna muito fácil criar um deepfake convincente que antes não víamos”.
Como o uso de IA para criar vídeos de celebridades ou figuras públicas sem autorização é uma preocupação constante, a OpenAI declarou que trabalhará junto aos detentores de direitos para excluir personagens no Sora mediante pedidos formais. Varun Shetty, chefe de parcerias de mídia da empresa, destacou: “Trabalharemos com os detentores de direitos para bloquear personagens no Sora a pedido deles e responderemos a solicitações de remoção”.
Regulamentação, limitações e o futuro das redes de vídeo por IA
Embora o Sora tenha restrições para conteúdos sexuais ou protegidos por direitos autorais e permita que usuários usem imagens pessoais ou de celebridades com consentimento, o aplicativo já provoca reações de surpresa, alegria e receio nas plataformas sociais. Alguns veem potencial para inovação e democratização da criação de conteúdo, enquanto outros temem o impacto na credibilidade e na mídia.
Além disso, o app oferece recursos como “Cameos”, que permite criar vídeos com personagens de celebridades ou figuras públicas, usando imagens enviadas pelos próprios usuários. O objetivo, segundo Sahai, é popularizar essa tecnologia por meio de plataformas sociais — uma evolução natural na era de vídeos e redes baseadas em IA.
Entretanto, a possibilidade de gerar vídeos convincentes de pessoas reais sem autorização levanta questões legais e éticas, especialmente em relação à propriedade intelectual, privacidade e propaganda falsa. Na prática, especialistas alertam que o Sora pode acelerar a disseminação de vídeos de baixa qualidade, “slop” ou conteúdos enganosos, o que reforça a necessidade de regulamentações e filtros mais rígidos.
Por ora, o sucesso do Sora evidencia o grande potencial da IA para transformar a criação de vídeos e redes sociais, mas também aponta para os desafios que surgirão em relação à ética, segurança e direitos dos indivíduos. Como afirmou Sahai, “há uma necessidade urgente de proteções reais para artistas e criativos ao se depararem com modelos de IA usando sua propriedade intelectual”.
