No último dia 6, a Bispa de Londres, Sarah Mullally, foi anunciada como a nova Arcebispa de Cantuária, marcando um feito histórico na Igreja da Inglaterra. Esta é a primeira vez em 1.400 anos que uma mulher assume a posição máxima da instituição, um marco significativo em um contexto que busca mais inclusão e diversidade.
Mullally, de 63 anos e ex-chefe de enfermagem da Inglaterra, herdará importantes desafios. Entre eles estão as divisões sobre o tratamento a mulheres e pessoas LGBTQ+. Além disso, ela terá que lidar com as preocupações de que os líderes da igreja não tenham agido de forma sufficientemente firme para erradicar os escândalos de abuso sexual que assombram a instituição há mais de uma década.
Uma nova era para a Igreja da Inglaterra
A escolha de Mullally como Arcebispa de Cantuária-designada representa um marco crucial para uma igreja que começou a ordenar suas primeiras sacerdotisas em 1994 e que designou uma mulher como bispa pela primeira vez em 2015. Ela sucede a 105 homens que ocuparam o cargo desde que Santo Agostinho se tornou o primeiro Arcebispo de Cantuária no ano 597.
Esperança em tempos turbulentos
Em suas primeiras declarações, Mullally se manifestou na Catedral de Cantuária, fazendo uma oração e expressando a esperança que observa, apesar da incerteza global e das dificuldades internas da igreja. “Meu chamado primeiro é seguir Cristo e espalhar sua mensagem,” afirmou.
Além disso, ela também se dirigiu a questões críticas que afligem a nação, como a migração, que gerou divisões políticas, e o debate sobre um projeto de lei no Parlamento que visa legalizar a morte assistida, a qual ela se opõe. Também mencionou a “horrível violência” do recente ataque a uma sinagoga em Manchester, no Yom Kipur, o dia mais sagrado do ano judaico.
“Estamos testemunhando o ódio que emerge através de fissuras em nossas comunidades,” disse. Ela destacou a responsabilidade da igreja em se unir à comunidade judaica contra o antissemitismo em todas as suas formas.
Reações à nomeação de Mullally
O Primeiro-Ministro Keir Starmer celebrou a nomeação de Mullally e expressou seus votos de sucesso. Segundo ele, a Igreja da Inglaterra é de importância profunda para o país, e a nova Arcebispa terá um papel fundamental na vida nacional.
Mullally assume o posto após a renúncia do ex-arcebispo Justin Welby, que se afastou em novembro após uma investigação independente concluir que ele não informou a polícia sobre abusos físicos e sexuais cometidos por um voluntário em acampamentos de verão cristãos assim que tomou ciência dos fatos.
Andrew Graystone, um defensor de sobreviventes de abusos da igreja, destacou que além da diminuição do comparecimento aos cultos, a nova arcebispa enfrentará uma série de desafios, como a restauração da confiança após uma década de escândalos.
O papel da Arcebispa de Cantuária
Com mais de 85 milhões de membros espalhados por 165 países, a Comunhão Anglicana considera o Arcebispo de Cantuária como o “primeiro entre iguais”. Apesar de cada igreja nacional ter seu próprio líder, a figura do arcebispo potencializa a unidade e a força da tradição anglicana em nível global.
O processo de nomeação de Mullally levou 11 meses e foi conduzido por um comitê de cerca de 20 pessoas, presidido pelo ex-diretor-geral da MI5, o serviço de inteligência interno britânico. Embora os processos de eleição papal ocorram rapidamente, a seleção do novo arcebispo demonstrou ser muito mais longa e envolta em menos transparência, já que não foi divulgada uma lista de candidatos ou realizado um voto aberto.
As expectativas são altas para o novo capítulo que a Igreja da Inglaterra irá explorar sob a liderança de Sarah Mullally, cuja cerimônia de posse será realizada em janeiro na Catedral de Cantuária e contará com a presença de membros da família real, trazendo assim um simbolismo adicional ao seu novo papel.