Nesta sexta-feira (3), a Polícia Civil de São Paulo prendeu um homem apontado como um dos principais fornecedores de materiais utilizados na produção de destilados adulterados. A operação, realizada na Zona Norte da capital paulista, resultou na apreensão de dezenas de itens que seriam empregados na falsificação de bebidas.
Investigação e estratégias do criminoso
Segundo informações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o detido comercializava uma variedade de artigos, incluindo garrafas, tampas, rótulos, caixas de embalagem e até selos falsificados que representam o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da Receita Federal. Acredita-se que esse material abastecia diversas localidades do estado, com maior ênfase para o interior de São Paulo.
As investigações revelaram que o suspeito estabeleceu uma rede de distribuição que incluía a aquisição de garrafas de bebidas como uísque, vodca e gin. O modus operandi envolvia a lavagem das garrafas usadas e a subsequente reetiquetagem com falsificações, além da aplicação de selos de autenticidade que enganavam os consumidores.
Fiscalização e uso de metanol
Além da prisão do fornecedor, a Polícia Civil também investiga o uso de metanol na higienização de garrafas utilizadas na produção das bebidas. Isso ocorre em um contexto em que o Brasil tem visto um aumento alarmante de casos de intoxicação relacionados a metanol em bebidas alcoólicas.
A linha de investigação começou após testemunhos de vítimas de intoxicação, levando as autoridades a bares onde os primeiros casos foram registrados. A busca prosseguiu por distribuidoras que abasteciam esses estabelecimentos e, finalmente, para fábricas clandestinas em operação.
Até o momento, não foram identificados os responsáveis pela cadeia de adulteração nem a origem do metanol, que, conforme as investigações, pode não estar disponível no mercado legal brasileiro. O metanol, um álcool industrial bastante perigoso, é utilizado em solventes e outros produtos químicos, sendo mortal quando consumido.
Análises em andamento
Para lidar com a crescente crise de saúde pública, o Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo anunciou a criação de uma força-tarefa que está avaliando as garrafas apreendidas durante as fiscalizações. Até a última quinta-feira (2), mais de mil garrafas foram recolhidas, das quais aproximadamente 250 já passaram por análises específicas no IC.
O diretor do Núcleo de Química do IC, Mauro Renault, detalhou que o processo de análise é dividido em duas etapas. A primeira consiste na documentoscopia, onde garrafas são verificadas em relação à sua autenticidade por meio de inspeção visual e equipamentos auxiliares. A segunda fase envolve uma avaliação química rigorosa, que utiliza centrífugas para determinar a composição do líquido e se seus componentes estão dentro dos limites de segurança estabelecidos. Até agora, duas das dez garrafas analisadas testaram positivo para metanol.
Riscos à saúde associados ao metanol
Diferentemente do etanol, utilizado na produção de bebidas alcoólicas normais, o metanol é altamente tóxico e pode ser misturado em bebidas sem que o consumidor perceba. O corpo metaboliza o metanol no fígado, transformando-o em substâncias nocivas, como o ácido fórmico. Os sintomas de intoxicação são graves e podem incluir visão turva, dores abdominais, e em casos extremos, cegueira permanente ou até mesmo morte. O tratamento exige atendimento médico rápido e eficaz, uma corrida contra o tempo para salvar vidas.
Resposta governamental e prevenção
Em resposta ao aumento dos casos de intoxicação por metanol, o Ministério da Saúde instalou uma Sala de Situação Nacional para coordenar ações entre a Anvisa, vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, além de outros órgãos relevantes. As medidas visam a prevenção de mais casos e a proteção da saúde pública.
O combate à produção e circulação de bebidas adulteradas continua sendo uma prioridade, com esforços concentrados para desmantelar redes de falsificação e garantir a segurança do consumo de bebidas no Brasil. A polícia está comprometida em realizar investigações detalhadas para responsabilizar os envolvidos e impedir futuros casos de intoxicação.
A sociedade também deve estar atenta e denunciar qualquer atividade suspeita relacionada à venda de bebidas alcoólicas, contribuindo assim para um ambiente mais seguro e saudável.