O padre Custodio Ballester aguarda nesta semana a sentença por supostos comentários islamofóbicos feitos em entrevistas e textos publicados. O processo, analisado na Justiça da Espanha, pode culminar com uma sentença de até três anos de prisão e multas, gerando polêmica sobre os limites da liberdade de expressão no país.
Controvérsia judicial e defesa do padre
Questionado sobre a possibilidade de ser condenado, Ballester declarou à CNA que a sua “sobrevivência na liberdade de expressão na Espanha depende do resultado desta sentença”. Ele afirmou ainda que, caso haja condenação, o país estará rumando para um regime semelhante ao cubano, onde “qualquer comentário ou pensamento diferente pode resultar na prisão”, em suas palavras.
O padre e dois colegas, o também sacerdote Jesús Calvo e o jornalista Armando Robles, foram acusados de fazer declarações alegadamente “islamofóbicas” durante uma denúncia feita à Justiça por uma associação de muçulmanos na Espanha. Os questionamentos ocorreram na Justiça provincial de Málaga, em 1º de outubro, onde o trio defendeu suas posições.
Posição do padre e o debate sobre liberdade de expressão
Ballester afirmou que suas declarações “nunca foram discriminatórias ou de ódio”, referindo-se a entrevistas de 2017 e textos escritos anteriormente. “Sou calmo, espero que o resultado seja favorável”, disse ele após deixar a audiência, acrescentando que está preparado para enfrentar possíveis penalidades, inclusive apelar ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos caso seja condenado.
Segundo ele, há uma percepção de que a legislação de delitos de ódio na Espanha é usada de forma seletiva, atendendo mais às demandas contra cristãos do que contra muçulmanos. “A lei de ódio é uma ferramenta para restringir a liberdade de pensamento e expressão, e parece atuar de forma unilateral, só processando cristãos”, afirmou a CNA.
Posicionamentos e críticas ao processo
Ballester também é conhecido por suas opiniões sobre o diálogo inter-religioso, que ele considera “impossível” com o Islamismo, e por denunciar a perseguição de cristãos em países como Nigéria, Síria e Bangladesh. Críticos acusaram-no de “homofobia” por suas posições contrárias à homossexualidade e ao aborto, além de ele próprio criticar a “toleração” da justiça espanhola com esses temas.
Organizações de defesa dos direitos civis, como o grupo Abogados Cristianos, coletaram mais de 28 mil assinaturas pedindo a absolvição de Ballester. Manifestantes em Málaga também protestaram, carregando faixas e petições, enquanto grupos diversos de fé e direitos humanos reforçam a preocupação com supostas violações à liberdade de expressão.
Perspectivas futuras e o impacto na liberdade de expressão
O padre afirmou que, se condenado, recorrerá ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Ele lembra que sua formação militar, nos comandos especiais, o treinou para “obedecer e resistir à adversidade”, o que segundo ele, fortalece sua serenidade diante do julgamento. “Se tudo correr bem, será uma vitória para todos que defendem a liberdade de expressão”, comentou.
A ativista María García, da Observatória da Liberdade Religiosa, criticou o processo, alegando que a questão não se trata apenas de um julgamento contra um padre, mas de uma batalha maior pela liberdade de manifestação de opiniões legítimas, mesmo que conflitantes com a narrativa oficial ou crescente no contexto do islamismo radical. Ela recordou o ataque em uma igreja do sul da Espanha, em que um jihadista matou o sacristão Diego Valencia em janeiro de 2023, questionando: “Quem realmente promove o ódio?”