No próximo dia 11 de outubro, o arquiteto Gabriel Weber irá lançar em São Paulo, na livraria Megafauna do Edifício Copan, um livro que promete recontar a história da linha de ônibus 474, que circula entre Jacaré e Copacabana, no Rio de Janeiro. A obra, que leva o mesmo nome da linha, é resultado de uma profunda observação e pesquisa que o autor realizou ao longo de anos, utilizando o coletivo como um ponto de partida para entender as contradições e a dinâmica da cidade maravilhosa.
A rota da linha 474
Com início no bairro do Engenho Novo e término nas areias da famosa praia de Copacabana, a linha 474 é mais do que um simples meio de transporte. A proposta de Gabriel Weber é explorar como esse ônibus serve como um microcosmos do Rio de Janeiro, revelando a diversidade social e cultural da cidade. Frequentemente associado a manchetes sobre violência e tumultos, o ônibus tem sua história contada sob uma nova perspectiva pela visão do autor.
Durante suas viagens na linha, Gabriel observou que a composição dos passageiros varia significativamente entre dias úteis e finais de semana. Nos dias de semana, o ônibus é utilizado majoritariamente por trabalhadores que se deslocam para a Zona Sul em busca de empregos nos setores de serviços. Já aos sábados, o clima muda completamente; o 474 se transforma em algo próximo a um ‘trio elétrico’, cheio de jovens e famílias que buscam diversão nas praias.
O olhar antropológico de Weber
Gabriel Weber admite que sua experiência no ônibus moldou não apenas a sua percepção do transporte público, mas também da própria cidade. “Fui fazendo uma antropologia fajuta de arquiteto”, comenta. Armado com uma fita métrica, um caderno vermelho e uma câmera analógica descartável, ele começou a documentar sua experiência e coleta de dados sobre o 474.
O autor observa que as janelas do ônibus são um dos primeiros alvos de depredação, muitas vezes quebradas por passageiros que desejam se refrescar ou criar saídas alternativas. A precariedade e a falta de cuidado com o transporte se tornaram elementos centrais do seu estudo, refletindo uma camada social que raramente é abordada na mídia.
A dualidade da linha 474
Uma das principais análises que Gabriel faz em seu livro é a dualidade da linha 474. Para muitos, o ônibus representa uma forma de mobilidade e acesso ao lazer, enquanto para outros é visto como um símbolo de perigo e criminalidade. “O 474 encarna um pouco aquela visão maniqueísta de que o mal é este que precisamos combater”, reflete Weber, que tentava dar voz a quem passa diariamente pela linha.
A referência à “Operação verão”, que frequentemente se concentra em ações policiais voltadas para a segurança do 474, exemplifica como a linha é percebida como um espaço problemático. Gabriel também evidencia como o policial que faz a revista dos passageiros é um reflexo de uma realidade que marginaliza e criminaliza um segmento da população.
Impacto cultural e social
O impacto do ônibus na vida dos passageiros é uma das grandes mensagens que Gabriel tenta transmitir. Ele acredita que, ao contar a história do 474, é possível vislumbrar a complexidade das interações humanas e sociais que se desenrolam dentro daquele espaço. “Ele une, ao mesmo tempo que separa, dois pontos muito diferentes da cidade”, diz ele, enfatizando que a linha serve tanto aos que vão trabalhar quanto aos que buscam lazer.
O lançamento do livro também marca um ponto de virada para que a linha 474 ganhe uma nova narrativa, superando a fama de ser um local de violência. Com isso, Weber espera contribuir para uma maior compreensão do papel dos transportes públicos na formação da identidade carioca e na vida diária da população.
Conclusão
O livro de Gabriel Weber promete não apenas ser uma leitura interessante para quem utiliza o transporte público, mas também uma reflexão sobre a cidade do Rio de Janeiro sob uma nova luz. A linha 474, que simboliza as contradições e as potências sociais da cidade, é uma peça fundamental na composição da identidade carioca. O autor inicia, assim, um importante debate sobre mobilidade, cultura e os desafios da urbanidade no Brasil.
Com o lançamento previsto para o dia 11 de outubro, os interessados estão convidados não apenas a adquirir o livro, mas a participar dessa discussão sobre o transporte urbano e sua relevância nas narrativas da cidade.