Brasil, 3 de outubro de 2025
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Inteligência artificial chega às igrejas e provoca reações mistas

A presença da inteligência artificial nas religiões ganha destaque, mas gera polêmicas e divisões entre os fiéis.

A inteligência artificial, tecnologia que está transformando quase todos os aspectos da sociedade, começa a fazer incursões no campo da religião, por meio de figuras virtuais de Jesus e sermões automatizados. Essa mudança tem recebido avaliações mistas por parte dos seguidores de diversas crenças. Aplicativos de mensagens e ferramentas digitais voltadas para a espiritualidade estão se proliferando, proporcionando consolo, conselhos e orientação espiritual em uma era onde a socialização e o engajamento estão em constante transformação.

A ascensão dos chatbots religiosos

Um dos aplicativos mais notáveis é o “Converse com Jesus”, que já conta com milhares de assinantes pagantes. A proposta do app é permitir que as pessoas façam perguntas a figuras como Maria, José, Jesus e os doze apóstolos. “Esta é uma nova forma de abordar questões religiosas de maneira interativa”, revelou Stephane Peter, CEO da Catloaf Software, que criou o aplicativo.

Ainda que o aplicativo deixe claro que utiliza inteligência artificial, Jesus e Moisés, por exemplo, não reconhecem essa condição quando são questionados diretamente. Peter afirma que a versão mais recente do ChatGPT, baseada no GPT-5, que alimenta o “Converse com Jesus”, é mais eficiente em seguir instruções e em manter a persona que deve representar, negando de forma mais convincente ser um bot.

Embora algumas pessoas considerem o aplicativo uma blasfêmia, ele obteve uma boa avaliação na App Store, alcançando 4,7 de 5. O ministério católico Catholic Answers experimentou a sensibilidade do público em relação à inovação religiosa ao lançar o personagem de IA “Padre Justin” no ano passado. “Muitas pessoas se ofenderam com o uso de um personagem de sacerdote,” disse Christopher Costello, diretor de tecnologia da organização. Dias depois, o título foi alterado para apenas ‘Justin’. “Não queremos substituir humanos. Apenas queremos ajudar”, afirmou Costello.

A reação de outras religiões

Outras grandes religiões também estão adotando aplicativos similares, como Deen Buddy para o Islã, Vedas AI para o Hinduísmo e AI Buddha. Esses aplicativos se apresentam como interfaces com as escrituras sagradas, e não como incarnations de santidade. Nica, uma mulher de 28 anos da Igreja Anglicana nas Filipinas, utiliza o ChatGPT quase diariamente para estudar a Bíblia, mesmo com o desaprovamento de seu pastor. “Eu diria que é uma camada a mais,” declara Nica. “Estou em uma comunidade cristã e meu marido e eu temos mentores espirituais, mas algumas vezes tenho pensamentos aleatórios sobre a Bíblia e quero respostas imediatamente.”

Embora muitos relutem em admitir o uso de assistentes de IA em questões religiosas, alguns desses aplicativos já foram baixados milhões de vezes. “As pessoas que querem acreditar em Deus talvez não deveriam perguntar a um chatbot. Elas deveriam conversar com pessoas que também acreditam”, disse uma mulher chamada Emanuela, enquanto saía da Catedral de St. Patrick, em Nova York.

A conexão emocional na prática religiosa

A rabina Gilah Langner expressou que o halakhah — o corpo coletivo de leis religiosas derivadas da Torá, o livro sagrado dos judeus — possui muitas interpretações. Para os judeus, a interação com outros membros da fé é essencial para ligar os ensinamentos à tradição religiosa. “Acredito que isso não pode ser substituído por IA. É possível que seja algo muito nuançado, mas a conexão emocional está ausente”, avaliou Langner.

Para as comunidades cristãs, a IA não está sendo rejeitada completamente. O CEO da Catloaf Software mencionou que discutiu com líderes religiosos, e muitos concordam que a IA pode ser uma ferramenta para educar as pessoas. No ano passado, o Papa Francisco nomeou Demis Hassabis, cofundador do laboratório de pesquisa em IA Google DeepMind, para servir na academia científica do Vaticano.

Com a sociedade se aventurando no mundo da inteligência artificial, o clero também está se envolvendo. Em novembro de 2023, o pastor Jay Cooper da Violet Crown City Church, em Austin, Texas, deixou que um assistente de IA realizasse um sermão completo, avisando os fiéis com antecedência. “Algumas pessoas entraram em pânico e disseram que agora éramos uma igreja de IA,” comentou Cooper. Entretanto, ele acrescentou que o serviço atraiu pessoas que normalmente não compareciam à igreja, especialmente os aficionados por videogames.

“Fico feliz que fizemos isso, mas senti que perdeu a essência e o espírito do que normalmente fazemos”, concluiu Cooper. A presença da inteligência artificial nas práticas religiosas continua a gerar debates, com os fiéis divididos entre as inovações tecnológicas e a busca por uma conexão espiritual autêntica.

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