As exportações brasileiras de soja para a China aumentaram 28,4% em agosto, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados recentes. O crescimento está diretamente ligado à guerra tarifária iniciada pelo governo dos Estados Unidos, que levou a China a suspender as compras de grãos americanos. Com cerca de 70% da produção dos EUA destinada ao mercado chinês, os estoques estão chegando a limites críticos, gerando pedidos de socorro por parte dos agricultores norte-americanos.
Novos cenários no comércio de soja e possíveis acordos
Nesta semana, o ex-presidente Donald Trump afirmou que pressionará o presidente Xi Jinping a retomar as compras de soja dos EUA no encontro previsto para as próximas quatro semanas na Coreia. Segundo o economista Márcio Sette Fortes, ex-diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), um acordo entre as duas maiores economias do mundo é considerado provável. No entanto, o impacto para o mercado brasileiro dependerá dos termos negociados.
Segundo Fortes, a China deseja retomar uma relação mais equilibrada com os EUA e não quer depender exclusivamente da soja brasileira. “Xi Jinping colocará na mesa as tarifas que inviabilizam o comércio chinês, enquanto Trump está sob pressão dos agricultores americanos, que veem seus estoques aumentando descontroladamente”, afirma. Apesar da relação estratégica com os EUA, a possibilidade de os americanos recuperarem a liderança nas exportações para a China parece remota devido ao foco chinês em segurança alimentar e diversificação de fornecedores.
Brasil assume liderança nas exportações agrícolas à China
Desde o início da guerra comercial entre os EUA e a China, o Brasil consolidou sua posição como principal fornecedor de produtos agrícolas para Pequim. Em 2015, os EUA respondiam por 21,7% das importações chinesas de alimentos, enquanto o Brasil tinha 17,5%. Após 2017, os números se igualaram, e a partir de 2018 o Brasil tomou a dianteira, mantendo de 62% a 69% do mercado chinês na comparação entre 2020 e 2024. Nesse período, os EUA ficaram com uma fatia entre 23% e 31%.
Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações e coordenadora do Programa Ásia do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), destaca que 2025 marca uma mudança de padrão. “É muito provável que China e EUA cheguem a um acordo para retomar os níveis de compra de soja americana até o fim de 2024, mas esse não deve afetar o Brasil negativamente. A demanda chinesa por soja brasileira continuará forte, por conta da nossa posição consolidada no mercado”, explica.
Demandas internas, biocombustíveis e novas disputas
Especialistas apontam que a redução da presença norte-americana no mercado global de soja não se deve apenas às tensões comerciais com a China. Desde 2020, os EUA vêm ampliando sua capacidade de esmagamento de soja, impulsionados pelo boom no uso de óleo de soja para biocombustíveis. A produção de biodiesel, estimulada por políticas públicas e pelo crescimento do diesel renovável, é uma das razões dessa mudança. Estudos indicam que o Brasil possui potencial para transformar até 70 milhões de acres de pastagens degradadas em áreas produtivas, sobretudo no Cerrado, reforçando sua posição de liderança mundial.
Além do Brasil, a Argentina também vem crescendo e disputando o mercado chinês, tendo recentemente anunciado a isenção de impostos sobre grãos até o final de outubro. Essa estratégia deve acelerar as vendas de farelo e óleo de soja, segmentos dominados pelo país. Assim, o cenário aponta para uma nova configuração nas rotas globais de exportação de soja, com a América do Sul ganhando protagonismo em relação aos EUA.
O que esperar do futuro do comércio de soja?
O mercado global aguarda com atenção o resultado do encontro entre Trump e Xi Jinping, esperado para breve, que pode alterar significativamente as rotas comerciais do agronegócio. Ainda que poucos acordos tenham sido firmados pelos EUA desde o tarifazo de abril, há esperança de que uma reaproximação possa contemplar a retomada das relações comerciais na soja. No entanto, o ambiente permanece incerto, enquanto os agricultores brasileiros continuam monitorando as negociações internacionais com atenção.
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