O cineasta e ativista carioca Miguel Viveiros de Castro está desaparecido desde a última quarta-feira, dia 1º de outubro, após a interceptação da ‘Global Sumud Flotilla’ por forças navais israelenses. O grupo, composto por mais de 40 embarcações, participava de uma missão humanitária rumo à Faixa de Gaza, transportando alimentos e remédios para a população em situação de vulnerabilidade. O último contato com a família foi feito horas antes da ação militar, através de vídeos onde Miguel compartilhava sua apreensão diante das ameaças iminentes.
A última comunicação de Miguel Viveiros
Miguel embarcou no barco Catalina e registrou seus sentimentos em vídeos enviados para a família momentos antes do desaparecimento. Ele expressou a tensão e o medo que todos a bordo sentiam à medida que embarcações israelenses se aproximavam. “Estão se aproximando, a qualquer momento a gente vai jogar os telefones na água. Então… tá começando”, alertou Miguel em um dos vídeos, que foi enviado por volta das 23h do dia 1º. O clima de incerteza se agravou à medida que ele relatava ataques a jatos d’água contra a flotilha.
Trajetória de um documentarista comprometido com a verdade
Com uma carreira dedicada ao cinema documental, Miguel Viveiros de Castro é conhecido por seu foco em movimentos sociais, direitos humanos e causas ambientais. Seu aclamado longa-metragem “Brad, Uma Noite Mais nas Barricadas”, que narra o assassinato do videoativista Brad Will durante uma rebelião no México, lhe conferiu reconhecimento internacional. Outros de seus trabalhos, como “Tornallom”, que retrata a resistência de comunidades em Valência, e “Mundurukânia”, sobre os impactos das hidrelétricas na Amazônia, mostram seu empenho em dar voz aos oprimidos.
Além de suas produções, Miguel tem uma significativa obra sobre a luta pelos direitos humanos no Brasil, como seu documentário “Em Busca da Caixa-Preta do Golpe de 64”, que revela a história de militantes antes da ditadura militar. Sua filmografia sólida reflete seu compromisso em contar histórias que muitas vezes são ignoradas pela mídia convencional.
Demandas da família e reações internacionais
Desde a noite de quarta-feira, não houve mais informações sobre o paradeiro de Miguel. A ‘Global Sumud Flotilla’ declarou que o veleiro Catalina não aparece na lista de embarcações interceptadas, mas ele é considerado “possivelmente detido”. A família expressou seu repúdio ao uso do termo “possivelmente”, ressaltando a gravidade da situação. Em nota, eles afirmaram: “Miguel não é número, não é abstração. Ele é uma pessoa, um brasileiro desaparecido em meio a uma operação que ataca não apenas Gaza, mas também aqueles que ousam romper o cerco”.
A família exige que o governo brasileiro e organismos internacionais reconheçam oficialmente o desaparecimento de Miguel e tomem ações efetivas para esclarecer sua situação. “A incerteza é devastadora. É uma forma de sofrimento que destrói por dentro”, desabafou a família, ressaltando a necessidade de verdade e ação imediata.
Reações do governo brasileiro
Em resposta à interceptação das embarcações, o governo brasileiro se manifestou condenando a ação das forças israelenses. O Ministério das Relações Exteriores criticou a detenção arbitrária e solicitou a liberação imediata dos cidadãos brasileiros envolvidos na missão humanitária. Eles enfatizaram que essa operação representa uma violação do direito internacional, incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, e reafirmaram que operações humanitárias devem ser protegidas.
Enquanto as autoridades tentam esclarecer a situação de Miguel, os familiares enfrentam dias de angustia e espera, clamando por notícias e pela segurança dele. Com cada minuto que passa, a pressão aumenta sobre os órgãos responsáveis, não apenas para levar justiça ao caso de Miguel, mas também para assegurar que a missão humanitária, que ele abraçou, seja reconhecida como uma ação legítima e necessária.
O desaparecimento de Miguel Viveiros de Castro não é apenas uma questão individual, mas também um reflexo das complexas questões humanitárias que permeiam a região da Gaza, onde muitos cidadãos enfrentam desafios diários e o medo por suas vidas. O caso levanta questões cruciais sobre os direitos humanos e a importância das missões humanitárias que buscam oferecer ajuda aos mais necessitados.
Conforme novas informações sobre a situação de Miguel forem divulgadas, espera-se que a mobilização de familiares, amigos e ativistas ganhe força, trazendo à luz a necessidade de proteção e respeito aos direitos humanos em todas as partes do mundo.