O preço do café, que havia mostrado uma ligeira queda desde julho após 18 meses de alta nos supermercados, voltou a registrar previsão de aumento de até 15% nas próximas semanas. Analistas avaliam que a pressão sobre os custos deve persistir até o fim de 2025, influenciada por fatores internacionais e pelo mercado interno brasileiro.
Preços do café sob pressão no mercado interno e externo
Dados do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas, mostram uma alta de 1,44% em agosto e um aumento de 26,38% em setembro no atacado, sinalizando uma possível aceleração nos preços ao consumidor. Segundo o economista André Braz, do FGV Ibre, a expectativa é de novas pressões inflacionárias, especialmente devido às tarifas tarifárias impostas pelos EUA ao Brasil.
Uma tarifa de 50% aplicada por Donald Trump às importações brasileiras de café, em vigor desde julho, contribui para a incerteza no mercado global, elevando os custos de importação e pressionando os preços internos. Apesar da queda em exportações para os EUA, a demanda por café tem se mantido forte em outros mercados, como a Colômbia, que registrou aumento de 578% nas vendas.
Impactos na produção e nos estoques internacionais
O Brasil, maior produtor e exportador mundial de café, enfrenta clima desfavorável e estoques globais baixos, o que sustenta as cotações internacionais. Os preços das sacas de 60 kg quase retomaram o patamar anterior à queda de março, com o arábica chegando a R$ 2.243, e o robusta a R$ 1.373. Especialistas explicam que as oscilações refletem as perspectivas de safra e o clima,prioritariamente na fase de florescimento das lavouras, que ocorre entre setembro e novembro.
Apesar de boas expectativas para a safra de 2026, o mercado já observa que a oferta deve continuar restrita e com estoques insuficientes para uma recuperação significativa. Assim, os preços elevados podem permanecer, mesmo com o avanço na colheita futura.
O comportamento do consumidor diante do aumento de preços
Com o aumento dos custos, consumidores brasileiros têm mudado seus hábitos de consumo de café. Pesquisa do Instituto Axxus, encomendada pela Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), revela que apenas 2% das pessoas afirmam consumir mais café em 2025, enquanto 24% reduziram a quantidade, maior índice já registrado.
O estudo aponta ainda que, diante da alta de preços, 39% dos entrevistados preferem sempre o café mais barato, independente da marca, e 22% escolhem a opção mais econômica entre as marcas de sua preferência. Além disso, a variação de preços foi de até 50,59% para o café solúvel, e de cerca de 48% para variedades tradicionais e extrafortes.
Projeções e estratégias para economizar
Segundo Celírio Inácio, diretor executivo da Abic, o aumento de preço já deve ser percebido nas primeiras semanas de outubro, devido ao estoque reduzido nas indústrias e no varejo, o que acelera o repasse ao consumidor final. A prática de trocar de marcas ou buscar opções mais baratas também tem sido comum, diante do cenário inflacionário.
Fernanda Mata, advogada de 44 anos, comenta que passou a comprar café mais barato para economizar, chegando a poupar até R$ 3 por xícara ao escolher estabelecimentos com preços mais acessíveis. Ela brinca que, em breve, o café pode virar presente como chocolate devido ao aumento constante dos preços, e espera dias melhores.
Perspectivas para o mercado de café
Especialistas explicam que a velocidade da recuperação de preços no mercado brasileiro é influenciada por expectativas futuras e condições climáticas. Renato Garcia, do Cepea, ressalta que a produção não deve recuperar os estoques significativamente em 2026, mantendo os preços elevados por mais tempo.
Por ora, o mercado permanece volátil, sem uma safra expressiva à vista, e os consumidores devem continuar percebendo os efeitos do cenário de oferta restrita, que combina clima desfavorável, estoques baixos e fatores internacionais como tarifas comerciais.
Fonte: O Globo