O debate político e religioso nos Estados Unidos ganhou destaque nesta semana após o senador democrata de Illinois, Dick Durbin, desistir de receber um prêmio em uma cerimônia da Arquidiocese de Chicago. A honraria, prevista para novembro, tratava de seu apoio aos imigrantes, mas a forte oposição de bispos católicos ao seu histórico pró-aborto levou Durbin a recuar na última segunda-feira (30).
Reação do Vaticano e posicionamento do papa Leo XIV
Antes de sua decisão, o papa Leo XIV abordou o tema da controvérsia em uma declaração emergencial, defendendo a importância de avaliar a trajetória de um político ao longo de sua carreira. Durante uma entrevista em Castel Gandolfo, o pontífice afirmou que “é importante olhar para o conjunto de ações de um senador ao longo de 40 anos de serviço nos EUA”.
O papa, natural de Chicago, também ressaltou que questões políticas são complexas e difíceis de simplificar, recomendando respeito mútuo nas divergências. Ainda, afirmou que uma postura verdadeiramente pró-vida deve transcender a defesa do aborto: “Quem se diz contra o aborto, mas apoia a pena de morte ou trata de forma desumana os imigrantes, não está sendo verdadeiramente pró-vida”, declarou.
Hierarquia de verdades e posições da Igreja
O bispo Daniel Thomas, presidente do comitê pró-vida dos bispos dos EUA, reforçou a importância de uma “hierarquia de verdades” no debate sobre a vida, destacando que as crianças no útero são as mais vulneráveis de todas. Thomas afirmou à OSV News que “não há dúvida de que todos enfrentam vulnerabilidade, mas os mais inocentes e indefesos são os pequenos no ventre”.
Durbin, por sua vez, expressou surpresa com a forte controvérsia gerada por sua homenagem e justificou sua retirada alegando que a reação pública, especialmente contra o cardeal Blase Cupich, tornou o reconhecimento inviável. Em entrevista à NBC News, o democrata afirmou que “não vejo sentido em continuar com a premiação” e elogiou as palavras do papa, sem imaginar que teria tal apoio.
Histórico de posições pró-aborto e reação da Igreja
Durbin, senador desde 1997, evoluiu de uma postura mais ambígua sobre o aborto para um apoio explícito ao direito de escolha. Em 2005, declarou à NBC que tinha mudado de opinião e considerava o aborto necessário em certos momentos da vida da mulher. Em 2022, após a revogação de Roe v. Wade, destacou que a decisão do Supremo Court eliminou “um direito constitucional protegido por quase meio século”.
Especialistas e grupos pró-vida e pró-escolha têm posições opostas: enquanto a Reproductive Freedom for All concede a ele nota máxima, a Susan B. Anthony Pro-Life America aponta que Durbin vota frequentemente contra proteções aos nascituros.
Reações da hierarquia católica e perspectivas futuras
Após a desistência de Durbin, bispos de diferentes regiões expressaram alívio, enfatizando que a postura oficial da Igreja exige solidariedade e unidade na defesa da vida desde a concepção. O arcebispo Michael Burbidge e o cardeal Blase Cupich destacaram a importância de um testemunho público que dialogue com os desafios atuais.
Em seu anúncio, Cupich defendeu que líderes políticos que não seguem integralmente os ensinamentos da Igreja não devem ser condenados, mas estimulados a dialogar. Por outro lado, o bispo Daniel Thomas afirmou que “a promoção do aborto é uma questão gravíssima” e que há uma “hierarquia de valores” que define a prioridade na defesa da vida, sendo a vida no ventre o ponto mais alto.
O caso evidencia as tensões entre fé, política e direitos civis nos Estados Unidos, ampliando o debate sobre o papel da Igreja na sociedade e suas posições diante de políticas públicas controversas.