O relatório do Centro de Pesquisa para uma Cultura de Paz da Universidade Autônoma de Barcelona traz um retrato sombrio da realidade global em 2024, com um aumento alarmante das guerras e um crescimento nas violações de direitos humanos. Com o número de conflitos armados subindo para 37, a situação desafia os esforços da comunidade internacional em busca da paz. Nesse contexto, as mudanças militaristas da União Europeia, que avança com um plano de rearmamento de € 800 bilhões, levantam preocupações acerca das prioridades em políticas de segurança.
Aumento de violência e mortes
O relatório anual sobre conflitos e direitos humanos revela que 57% dos conflitos armados registrados em 2024 foram considerados de alta intensidade, resultando em consequências devastadoras para a população civil. As mortes e a insegurança aumentaram drasticamente, com 60% dos conflitos apresentando um incremento na violência em comparação aos anos anteriores. As causas subjacentes são complexas e variadas, com a rejeição ao sistema político e econômico do Estado sendo citada por 73% das situações, enquanto questões de identidade e demandas por autogoverno aparecem em 59% dos conflitos.
Particularmente preocupante é o impacto dessas violências em contextos de crise, como o Haiti, onde a situação se deteriorou severamente, culminando em eventos trágicos, como ataques que afetaram crianças inocentes. A ONU relatou que a crise multidimensional do país coloca os mais vulneráveis em situações extremamente arriscadas.
Mulheres na mira
Além dos dados gerais, o relatório destaca uma preocupação específica: a violência de gênero em contextos de conflito. Em 2024, impressionantes 79% dos conflitos de alta intensidade ocorreram em países com baixos níveis de igualdade de gênero, e os casos de violência sexual aumentaram 50% em um único ano. Mulheres e meninas compõem 95% das vítimas, evidenciando a necessidade urgente de proteção e políticas direcionadas a esse problema.
Tensões sociopolíticas
A situação sociopolítica global não é melhor. O relatório lista 116 crises sociopolíticas em 2024, em sua maioria concentradas na África e na região da Ásia-Pacífico. Setenta e sete por cento dessas crises estão diretamente ligadas a oposição às políticas governamentais, com uma crescente insatisfação popular que leva a confrontos e desestabilizações.
Embora haja um aumento nas tensões, apenas uma fração das crises apresentou sinais de redução, mostrando que a comunidade internacional precisa trabalhar para criar ambientes mais estáveis e responder às demandas sociais que vão além das soluções militares.
A paz é possível
Em meio a essa turbulência, o relatório também apresenta cinco oportunidades para a paz, incluindo negociações entre a República Democrática do Congo e Ruanda, além de diálogos sobre autonomia em Bougainville. O encontro e a vontade de diálogo ressaltam que, embora desafiadora, a construção da paz é uma meta possível e fundamental para um futuro sem conflitos.
A Europa em risco
Um dos aspectos mais controversos do relatório refere-se ao plano de rearmamento da União Europeia, com investimentos planejados em defesa que ultrapassam os € 800 bilhões em quatro anos. Esta decisão estratégica levanta questões sobre a priorização de soluções militares em detrimento de abordagens diplomáticas e cooperativas em um cenário global já tão volátil. O documento aponta ainda a influência da indústria de armamentos como um dos fatores que têm moldado políticas nesta nova era de militarismo.
Com um foco redobrado em gastos militares, a Europa corre o risco de aprofundar as suas tensões internas e externas, o que poderia resultar em um ciclo vicioso de conflitos. A paz global, que parece um objetivo distante, ainda precisa de dedicação e investimento em estratégias que transcendam o arsenal bélico.
Enquanto as crises se intensificam, cada esforço voltado para o diálogo, a educação e a igualdade de gênero se torna crucial. A esperança ainda reside em iniciativas que promovam a paz, ressaltando que, apesar dos desafios, é possível construir um futuro melhor.
O relatório nos faz refletir sobre como o compromisso em construir um mundo pacífico deve ser uma prioridade para todos os países. Em um momento em que as tensões parecem incontroláveis, a comunidade internacional deve unir esforços para investir na paz.
Leia mais sobre o relatório completo.
