No tribunal, Cindy Clemishire, a mulher que acusou o pastor Robert Morris de molestar ela quando tinha apenas 12 anos, estava cercada por familiares enquanto Morris aceitava a responsabilidade por suas ações. Este momento representa a busca por justiça que ela perseguiu por décadas.
A queda de um megapastor
O acordo de culpabilidade de Morris marca a queda drástica de sua carreira. Ele fundador da Igreja Gateway em 2000, localizada em Southlake, Texas, e conseguiu transformá-la em uma megachurch com dezenas de milhares de frequentadores a cada semana. Seus sermões eram transmitidos globalmente, seus livros se tornaram bestsellers no meio evangelico, e ele atuou como conselheiro espiritual do ex-presidente Donald Trump.
No entanto, a carreira de Morris desmoronou em junho de 2024, após Cindy, agora com 55 anos, tornar públicas as acusações de abuso sexual. Dias depois, a Igreja Gateway anunciou que Morris estava deixando seu cargo. Em um comunicado, ele se referiu ao que chamou de “falha moral” com uma “jovem” Décadas antes, embora não tenha revelado detalhes sobre as acusações.
O que aconteceu com Cindy?

Cindy contou ao NBC News que o abuso começou na noite de Natal de 1982, quando tinha 12 anos. Vestindo um pijama florido, ela foi convidada por Morris, que era um evangelista itinerante na casa de sua família em Oklahoma, a ir até seu quarto. Ele a instruiu a deitar-se de costas e, em seguida, tocou em seus seios e abaixo de sua roupa íntima, disse ela — essa foi apenas a primeira de várias experiências semelhantes nos anos seguintes. “Nunca conte a ninguém sobre isso,” lembrou-se Clemishire. “Isso vai arruinar tudo.”
Ela manteve o segredo até 1987, quando decidiu contar a seus pais e aos líderes de sua igreja. Morris passou pelo que ele categoricamente descreveu como um “processo de restauração” no final dos anos 80, antes de voltar ao ministério. Ninguém chamou a polícia na ocasião, conforme relataram as fontes.
Busca por justiça
Após anos, na metade dos anos 2000, após Morris ter alcançado grande notoriedade, Cindy se aproximou dele e dos líderes da Igreja Gateway, buscando US$ 50 mil em restituição para cobrir os gastos que teve com terapia em função do trauma da infância. Em 2007, o advogado de Morris elaborou uma carta sugerindo que Cindy tinha responsabilidade pelo “comportamento inadequado” entre ela e Morris quando era criança, de acordo com uma cópia do documento revisada pelo NBC News. Morris ofereceu pagar US$ 25 mil, mas as negociações fracassaram porque Cindy não estava disposta a assinar um acordo de não divulgamento.
Essa história é um lembrete poderoso de que as vozes de sobreviventes de abuso precisam ser ouvidas e respeitadas. O caso de Cindy e a confissão de Morris marcam um ponto de virada significativo no reconhecimento e a responsabilização por abusos ocorridos ao longo das décadas.
O impacto dessa revelação continua a reverberar dentro e fora do meio evangélico, levantando questões sobre a proteção de crianças e a responsabilidade das instituições religiosas.