Luiz Henrique dos Santos Ferreira, conhecido como Profeta Santini, está no centro de uma grande controvérsia religiosa e financeira no Brasil. Réu por diversos crimes, incluindo charlatanismo e estelionato, ele continua a pedir doações em dinheiro através de suas transmissões ao vivo diárias. As investigações apontam que o grupo chefiado por ele, que supostamente oferece promessas de cura e milagres, arrecadou mais de R$ 3 milhões em apenas três meses.
A operação Blasfêmia e as acusações contra Santini
Na semana passada, o Ministério Público e a Polícia Civil desencadearam a Operação Blasfêmia, resultando na prisão de 22 pessoas ligadas ao Profeta Santini. Apesar das graves acusações, Santini não teve o pedido de prisão acatado e agora está sob monitoramento com uma tornozeleira eletrônica. As investigações revelaram que as contas do pastor e das pessoas jurídicas associadas a ele movimentavam mais de R$ 1 milhão, sendo esse valor bloqueado judicialmente.
Como funciona o esquema de arrecadação
A estratégia utilizada pelo grupo envolve a cobrança de valores altos, que podem chegar a R$ 1,5 mil, em troca de supostas promessas de curas e milagres. De acordo com o relatório do Ministério Público, as doações foram feitas por fiéis de pelo menos 18 estados brasileiros, com muitos deles contribuindo várias vezes. A polícia identificou um caso extremo envolvendo uma mulher de Roraima, que fez 17 depósitos, e um homem de 82 anos, que fez 19 contribuições.
Entre as abordagens utilizadas pelo grupo, as transmissões ao vivo tornaram-se um recurso fundamental. Incentivados por estruturas financeiras que incluíam quotas com metas de arrecadação, os operadores que atendiam os pedidos de oração eram orientados a se passar pelo próprio Santini, enviando mensagens e áudios em busca de doações. Desta forma, a organização conseguiu montar um esquema de arrecadação que, de acordo com o promotor Bruno Humelino, não só lesava o patrimônio dos doadores, mas também a confiança no exercício legítimo da fé.
Investigação e movimentações suspeitas
A investigação ainda aponta para a participação de Thuane Pereira dos Santos, mãe do filho de Santini, que se tornaria uma importante intermediária financeira. Em dois meses, ela recebeu 2.600 depósitos, totalizando uma movimentação de mais de R$ 425 mil. A denúncia sugere que Thuane atua como um desvinculador de recursos, desviando a atenção da verdadeira natureza das movimentações financeiras.
Além de Thuane, a irmã da contadora de Santini, Flávia Pereira dos Santos, também está sob investigação. A Justiça já determinou a abertura de um novo inquérito para apurar a possível lavagem de dinheiro que envolvia todo o grupo. A TV Globo tentou contato com ambas, mas não obteve retorno.
Impacto nas vítimas e análise do MP
As investigações relatam casos alarmantes de idosos que se tornaram vítimas do esquema. Entre eles, uma mulher de 62 anos doou 85 vezes ao grupo, enquanto um senhor de 82 anos fez 19 depósitos. O MP enfatizou que as ações realizadas pelo grupo comprometem não apenas a segurança financeira dos doadores, mas também a liberdade religiosa em um sentido mais amplo.
O promotor Humelino destacou a diferença entre a arrecadação legítima de dízimos e as práticas fraudulentas adotadas por Santini e sua organização. Enquanto a primeira é permitida pela Constituição, a última caracteriza-se como crime. “Quando essa arrecadação ocorre por meio de fraude, ultrapassa o campo da fé, sendo considerada conduta criminosa”, disse ele.
Declarações de Santini e suas consequências
Ao ser confrontado pela mídia sobre as acusações, Santini se declarou como vítima de uma perseguição religiosa. Ele afirmou que sua história de vida como pastor e seu trabalho em duas igrejas o habilitam a receber doações e que não há comprovação substancial das acusações que lhe são feitas. “Sou surpreendido com um mandado de busca e apreensão, e até agora não encontraram nada que pudesse me incriminar”, comentou ele.
Enquanto a investigação prossegue, o impacto do caso se estende para além das questões financeiras, afetando profundamente a confiança dos fiéis na fé e na segurança jurídica da liberdade religiosa. A sociedade aguarda as próximas etapas deste inquérito, que promete trazer maiores desdobramentos para este polêmico e espinhoso episódio.