O Banco Central do Brasil anunciou o adiamento do lançamento do Pix parcelado, aguardado inicialmente para setembro de 2025, para o final deste mesmo ano. A decisão foi motivada por recentes ataques cibernéticos e fraudes envolvendo instituições financeiras de menor porte, que expuseram vulnerabilidades no sistema financeiro.
Readequação do cronograma e medidas de segurança
Segundo o BC, a nova data prevê a publicação das regras gerais em outubro, com os manuais de experiência do usuário e procedimentos operacionais sendo divulgados em dezembro. A fase de transição, que permitirá a convivência entre o sistema regulado e os modelos privados existentes, acontecerá de janeiro a março de 2026.
Para especialistas, o adiamento, apesar de desafiador, não inviabiliza a implantação da ferramenta ainda em 2025. Leonardo Ramos, especialista em meios de pagamento, destaca que “o adiamento de aproximadamente 90 dias exige avanços rápidos, mas a implantação ainda é possível, dependendo das ações de regulamentação e ajustes de segurança”.
Questões de segurança e combate às fraudes
O atraso foi motivado por investigações do Ministério Público Federal que identificaram esquemas de lavagem de dinheiro e conexões com o Primeiro Comando da Capital (PCC), envolvendo contas laranja e movimentações via Pix. Para combater essas vulnerabilidades, o BC aprovou novas resoluções que incluem limites de transação, bloqueios cautelares e mecanismos antifraude, além da integração obrigatória com o Pix Automático para transações de empresas.
Segundo Ramos, as medidas são de caráter preventivo, com o objetivo de fechar as brechas exploradas por criminosos nos primeiros anos de funcionamento do Pix, que resultaram em prejuízos bilionários.
Convivência com modelos privados e riscos de golpes
Atualmente, bancos e fintechs oferecem versões de Pix parcelado, com taxas mensais que variam de 1,59% a 9,99%. A convivência entre esses modelos privados e o sistema regulado, prevista para 2026, pode gerar distorções no mercado, favorecendo instituições maiores e prejudicando os consumidores.
Especialistas alertam sobre o potencial aumento de golpes, como fraudes por engenharia social e aplicativos falsificados, que podem se aproveitar do desconhecimento dos usuários e de valores maiores por operação. Cláudio Plínio Castro destaca que o BC deve reforçar o mecanismo de devolução e utilizar análise de risco em tempo real para minimizar esses riscos.
Risco de superendividamento e necessidade de conscientização
Outro ponto de atenção é o risco de confundir o Pix parcelado com transferências tradicionais, que são gratuitas e instantâneas. Como operação de crédito, há cobrança de juros, potencializando o risco de superendividamento se os consumidores não entenderem que se trata de uma forma de empréstimo, alerta Castro.
Especialistas defendem campanhas de conscientização e contratos transparentes para evitar que consumidores sejam levados ao endividamento excessivo, similar ao cenário do uso do cartão de crédito rotativo.
Inclusão financeira e desafios de implementação
Apesar dos riscos, o Pix parcelado é visto como uma ferramenta capaz de ampliar a inclusão financeira, especialmente em um país com mais de 150 milhões de usuários ativos do sistema de pagamentos instantâneos. Andre Galípolo, presidente do BC, justificou o adiamento em setembro, ressaltando que a prioridade é a segurança.
Analistas avaliam que a modalidade pode aumentar a competição com cartões de crédito, reduzir custos e expandir o acesso a linhas de crédito mais baratas, mas reiteram que a efetividade dependerá do reforço das medidas de proteção e da adesão dos usuários ao sistema.
Perspectivas para 2025
O BC trabalha para divulgar as regras em outubro e lançar oficialmente o Pix parcelado até o fim de 2025. Caso haja novos atrasos, a implementação deverá ser adiada para 2026. A prioridade máxima é garantir que todas as salvaguardas estejam maduras para evitar repetir erros do passado, conclui Ramos.