Em um momento em que a Europa enfrenta um declínio nas vocações religiosas, as Irmãs Missionárias do Preciosíssimo Sangue (CPS) tomaram uma decisão ousada: transformar seu convento histórico, situado em Aarle-Rixtel, Países Baixos, em um abrigo para refugiados ucranianos. Este espaço sagrado, que antes reverberava com orações e hinos, agora se tornou um santuário de esperança para famílias que escapam das atrocidades da guerra.
Uma tradição de acolhimento revive na Europa
Desde a sua fundação, as irmãs têm sido protagonistas em ações de hospitalidade. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1914, elas acolheram refugiados belgas e croatas. Com apenas 15 religiosas ainda atuando no convento, a escolha de abrir as portas mais uma vez para os necessitados ressoa profundamente com a missão original de serviço da congregação.
Com a eclosão da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022, as irmãs reuniram-se em oração e, com o apoio da comunidade local e do município de Laarbeek, acolheram o primeiro grupo de 40 refugiados. Atualmente, 60 ucranianos encontram abrigo em duas alas do convento, vivendo em um espaço que prioriza a humanidade e a dignidade.
A experiência diária no convento
As religiosas se dedicam a garantir que as famílias refugiadas tenham acolhimento, conforto e autonomia. Cada família dispõe de seus próprios espaços e instalações para cozinhar, promovendo um ambiente de privacidade e respeito. As mães participam das tarefas diárias, enquanto uma horta comunitária se torna um espaço para cultivar legumes e conectar as culturas.
Educação e adaptação à nova realidade
A irmã Ingeborg Müller, com 83 anos, desempenha um papel fundamental ao ajudar os refugiados a aprender inglês, facilitando sua integração. Ela destaca que, apesar das dificuldades, muitos estão progredindo. O aprendizado de novas habilidades ajuda a restaurar a dignidade e a auto-estima das pessoas que sofreram uma deslocalização forçada devido à guerra.
Um espaço de resiliência e esperança
A vida cotidiana do convento é marcada pela convivência e pela partilha de experiências. Os jovens refugiados têm a oportunidade de explorar seus talentos na arte, música e culinária, criando laços com as irmãs e entre si. Com isso, o convento se transforma em uma verdadeira comunidade de resiliência e fé compartilhada.
As orações diárias pela paz na Ucrânia são uma constante, refletindo o desejo de um futuro mais seguro e harmonioso. A irmã Müller afirma que “esta casa, outrora lugar de oração, agora é um lugar de sobrevivência e esperança, um lar para aqueles que precisam.”
Desafios enfrentados no ministério
Apesar de todos os esforços, o ministério das irmãs não é isento de desafios. O espaço histórico do convento requer reparos e adaptabilidade, especialmente na convivência entre famílias com histórias tão diversas. O transporte é outro obstáculo, complicando a integração plena dos refugiados na comunidade local.
Mesmo diante dessas dificuldades, a atmosfera é repleta de gratidão. Os refugiados se unem às irmãs em orações, formando um laço que transcende a dor e a separação familiar. “A gratidão dos refugiados mantém viva a missão das religiosas”, ressaltou uma das irmãs.
Um chamado à ação em tempos de crise
Num cenário em que muitos questionam a relevância da vida religiosa na Europa moderna, as irmãs Missionárias do Preciosíssimo Sangue representam um testamento vivo: a missão continua a existir quando o amor e a compaixão são visivelmente atendidos. O convento, que um dia foi repleto de hinos, agora ecoa risos, agradecimentos e a esperança de novos começos.
A história destas irmãs nos lembra que, mesmo em tempos de crise, ações de amor e solidariedade podem gerar transformações profundas na vida das pessoas. O convento em Aarle-Rixtel é um exemplo inspirador de como a fé e a humanidade podem se unir para criar um espaço seguro e acolhedor para aqueles que mais precisam.