Na tarde desta terça-feira (30), durante uma sessão do Conselho Universitário (Consu), o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Paulo Cesar Montagner, anunciou a rescisão unilateral e imediata do acordo de cooperação com o Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), firmado em setembro de 2023. A decisão é uma resposta à escalada de violência do governo israelense contra o povo palestino na Faixa de Gaza, que a universidade considerou “inaceitável”.
A posição da Unicamp
No despacho assinado por Montagner, a Unicamp reafirma seu compromisso com os princípios que regem a instituição, destacando que não pode ficar em silêncio diante das atrocidades cometidas contra a população palestina. O reitor leu um texto durante a sessão que sublinha a posição da universidade em oposição ao genocídio da população palestina, afirmando que toda a comunidade acadêmica deve estar atenta e mobilizada diante de tais violações de direitos humanos.
“A Unicamp já se posicionou contra essa situação em duas oportunidades e reafirma o seu posicionamento contrário ao genocídio da população palestina, que fere todos os princípios e valores de nossa universidade”, definiu Montagner, que também informou que a instituição israelense já foi notificada sobre a decisão.
O que envolvia o acordo com o Technion
O acordo entre a Unicamp e o Technion previa a colaboração acadêmica através de projetos de pesquisa, intercâmbio de docentes, pesquisadores e estudantes de pós-graduação e graduação. A Technion, fundada em 1924, é à considerada uma das principais universidades do mundo na formação de cientistas e engenheiros, com mais de 10,2 mil alunos de graduação em 50 programas diferentes, segundo informações divulgadas em seu site.
Conflito em escalada e consequências
A rescisão do acordo ocorre em meio a um contexto de crescente violência na região. Desde 7 de outubro de 2023, a Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta a um ataque do Hamas, que resultou em cerca de 1,2 mil mortos e 251 reféns, conforme relatado pelas autoridades israelenses. Por outro lado, dados do Ministério da Saúde de Gaza apontam que os ataques israelenses resultaram na morte de mais de 65 mil pessoas, incluindo 18 mil crianças, e feriram outras 167 mil.
Uma comissão das Nações Unidas também destacou que mais de 40 mil crianças foram feridas e que, entre essas, pelo menos 21 mil estão agora com algum tipo de incapacidade. Em 16 de setembro, a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre os Territórios Palestinos Ocupados concluiu que Israel cometeu e continua a cometer genocídio em Gaza, uma afirmação corroborada por diversas organizações de direitos humanos, incluindo Anistia Internacional e Human Rights Watch.
A resposta do governo israelense
O governo israelense, por sua vez, nega as acusações de genocídio e afirma que suas ações visam garantir a segurança de seu território e repelir ataques do Hamas. Essa divergência de narrativas tem gerado um debate intenso na comunidade internacional, onde diversas vozes clamam por um cessar-fogo e pela proteção dos civis afetados pelo conflito.
A decisão da Unicamp se alinha com um movimento crescente em universidades e outras instituições de ensino ao redor do mundo que buscam distanciar-se de colaborações com organizações que operam em contextos de violação de direitos humanos. O rompimento com o Technion representa um ato simbólico em defesa dos direitos dos palestinos e do compromisso da Unicamp com a ética e a justiça social.
Essa mudança de postura não só reflete as inquietações políticas atuais, mas também incentiva um debate mais amplo sobre o papel das instituições acadêmicas em questões sociais e políticas globais. A Unicamp, portanto, reafirma sua posição não apenas como uma instituição de ensino, mas também como uma voz ativa em defesa dos direitos humanos.
Com a escalada do conflito, espera-se que mais instituições e figuras públicas se posicionem e que a comunidade internacional busque soluções duradouras e justas para a crise em Gaza. O rompimento da Unicamp com o Technion pode ser visto como um pequeno, mas significativo, passo nessa direção.