A partir do avanço em interfaces cérebro-computador, inteligência artificial geral (AGI) e engenharia genética, muitos vislumbram uma nova era transhumanista. Mas como a Igreja Católica avalia esse movimento?
O que é o transhumanismo e sua influência na sociedade
Segundo o Transhumanist FAQ 3.0, trata-se de um movimento cultural e intelectual que busca melhorar a condição humana por meio do desenvolvimento de tecnologias capazes de eliminar o envelhecimento e ampliar capacidades intelectuais, físicas e psicológicas.
Embora os membros de organizações transhumanistas oficialmente registrados sejam poucos, a mentalidade é bastante presente entre os principais desenvolvedores de tecnologia e influencia decisões relacionadas ao início e final da vida diariamente.
Perspectivas de figuras influentes no universo tecnológico
O empresário Bryan Johnson exemplifica essa tendência ao seguir uma rotina rigorosa de otimização da saúde, incluindo uso de suplementos, terapias com luz e transfusões sanguíneas, além de experiências com terapias genéticas não aprovadas pela FDA. Johnson, ex-membro de Igreja Mormon, criou o movimento “Don’t Die”, que ele mesmo chama de uma nova religião.
Outros nomes, como Jeff Bezos e Larry Page, investem bilhões em pesquisas para atrasar o envelhecimento e ampliar a extensão da vida, apostando na tecnologia como solução definitiva para a mortalidade.
A visão da Igreja Católica sobre o uso da tecnologia
Embora não apoie soluções biológicas para a morte, a Igreja dedica-se a promover o uso responsável das inovações tecnológicas, como a edição genética com CRISPR, para tratar doenças graves, sempre preservando a dignidade humana. Segundo fontes da instituição, projetos de edição genética são apoiados enquanto não violarem o respeito à pessoa, impedindo práticas de eugenia e seleção de genes com fins eugenistas.
Entretanto, a Igreja rejeita iniciativas que usam a tecnologia para criar embriões com características desejáveis, uma prática associada ao movimento transhumanista, que muitas vezes resulta na violação da dignidade do ser humano ao descartar embriões considerados inferiores.
Desafios éticos e o risco de redução da dignidade
Projetos voltados à engenharia genética de futuras gerações, como a seleção de inteligência, apresentam desafios éticos graves. Além de potencialmente promover uma nova forma de eugenia, esses projetos podem desvalorizar a vida presente ao priorizar melhorias futuras.
Na linha de pensamento transhumanista, há também o desejo de modificar o corpo através de interfaces cérebro-computador, como o Neuralink de Elon Musk. Apesar do potencial para a recuperação de funções motoras, há preocupações sobre privacidade mental e manipulação de pensamentos.
O perigo da busca pela imortalidade digital
Projetos que visam a uma existência digital, como a preservação da consciência em um formato de imortalidade artificial, levantam questionamentos filosóficos e morais. Para a Igreja, essa busca pode enfraquecer a compreensão da finitude e da esperança cristã na ressurreição do corpo.
Ray Kurzweil, por exemplo, aposta na singularidade tecnológica, onde a inteligência artificial se tornará uma extensão incompreensível da humanidade. Contudo, a Igreja alerta que a alma e a dignidade humanas não podem ser reduzidas a dados ou cópias digitais de si mesmas.
A abordagem cristã diante do progresso tecnológico
Religiões, incluindo o catolicismo, incentivam o diálogo com os transhumanistas, promovendo o uso ético das tecnologias para melhorar a saúde e prolongar a vida, sem desrespeitar a dignidade da pessoa humana. História da Igreja revela uma tradição de inovação, com avanços em cosmologia, genética e outros campos, sempre fundamentada na ética e no cuidado à pessoa.
Para o padre Michael Baggot, bioeticista e professor, a maior virtude é a compaixão e a caridade, que devem guiar qualquer avanço científico. “A melhora da condição humana deve sempre respeitar a dignidade e a integridade do corpo, imagem de Deus”, afirma.
O caminho a seguir: ética e esperança
O desafio do século XXI será equilibrar o progresso tecnológico com o respeito à dignidade humana, promovendo uma humanização dos avanços científicos. Como alerta a Igreja, a esperança não reside na perfeição tecnológica, mas na esperança cristã na vida eterna, onde o corpo e a alma encontram sua plenitude na ressurreição.