No dia 29 de setembro de 2025, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais da Santa Sé, fez um chamado urgente para a paz e o desarmamento. Em seu discurso, ele destacou a importância da dignidade humana, do respeito ao direito humanitário e da superação da crise do multilateralismo, enfatizando que esses elementos são cruciais para enfrentar os desafios globais contemporâneos.
A necessidade de cooperação multilateral
O arcebispo enfatizou que a “cooperação multilateral” é essencial para lidar com as questões globais que afetam a humanidade. Ele reafirmou a importância de valores fundamentais, como a promoção da paz internacional, o desenvolvimento e os direitos humanos, especialmente em um mundo que enfrenta um “isolacionismo” crescente. Gallagher salientou que a instabilidade global se reflete em crises climáticas, desigualdades profundas e pobreza alarmante, problemas que nenhum país pode resolver isoladamente.
Construindo a paz através do diálogo
Gallagher disse que a paz não é apenas a ausência de conflitos, mas um valor que deve ser nutrido através do “respeito mútuo”, que envolve um diálogo ativo e a rejeição do ódio e da vingança. Para isso, a Santa Sé propôs a criação de um fundo global que poderia ser alimentado, em parte, pelos gastos militares, destinado a erradicar a pobreza e a fome, além de promover o desenvolvimento sustentável e enfrentar a crise climática.
Desarmamento e a luta contra a proliferação nuclear
O arcebispo também abordou a questão do desarmamento, enfatizando que a construção da confiança entre as nações é fundamental para silenciar as armas. Ele expressou preocupação com o aumento dos gastos militares globais, que em 2024 devem atingir 2,72 trilhões de dólares, afirmando que isso perpetua ciclos de violência e desvia recursos de grupos vulneráveis. Gallagher alertou que o compromisso com tratados de desarmamento nuclear deve ser renovado, mencionando que existem mais de 12.000 ogivas nucleares no mundo e que um “mundo livre de armas nucleares é necessário e possível”.
Respeito pelo direito internacional humanitário
Outro ponto crucial abordado pelo secretário foi o respeito pelo direito internacional humanitário. Gallagher destacou que a violação desse direito, que inclui ataques a civis e o uso da fome como arma, representa graves crimes de guerra. Ele sublinhou a responsabilidade das forças militares em proteger os direitos humanos e em colaborar com órgãos humanitários que enfrentam enormes desafios em cenários de conflito.
Liberdade de crença e diálogo inter-religioso
O arcebispo Gallagher também chamou a atenção para a situação de mais de 360 milhões de cristãos que vivem em áreas de forte perseguição. A liberdade de pensamento, consciência e religião é fundamental, e ele enfatizou a importância do diálogo inter-religioso como um meio de promover a paz. Este diálogo, segundo ele, deve ser baseado no respeito mútuo, justiça e harmonia.
Enfrentando a pobreza e a crise climática
A Santa Sé reafirmou que erradicar a fome e a pobreza é uma obrigação moral, uma vez que estas privam as pessoas de seu potencial. Gallagher reiterou que a produção de alimentos e a sustentabilidade dos sistemas alimentares são essenciais para garantir dietas saudáveis e acessíveis a todos. Um enfoque em repensar e renovar os sistemas alimentares em uma perspectiva de solidariedade é fundamental para combater essas crises.
Direito dos trabalhadores e desafios da inteligência artificial
Em seu discurso, o arcebispo alertou que a crescente implementação da inteligência artificial pode representar uma ameaça ao emprego. Ele pediu a adoção de sistemas econômicos focados na criação de novas oportunidades de trabalho, assegurando condições de trabalho justas, especialmente para as mulheres. Além disso, enfatizou a criação de diretrizes éticas claras para a inteligência artificial, para evitar que ela subordine a dignidade humana à eficiência.
Apelos à paz em conflitos atuais
Durante seu discurso, Gallagher fez referências a vários conflitos, com ênfase na situação crítica da Ucrânia, onde pediu um cessar-fogo imediato e o início de negociações. Ele instou todos os países a se unirem na busca por uma paz duradoura, reforçando a necessidade de um compromisso renovado e urgente com a resolução de conflitos em regiões como o Oriente Médio, Sudão, e outras partes da África.
O futuro da ONU e o compromisso global
Finalizando seu discurso, Gallagher sublinhou que o 80º aniversário da ONU é uma oportunidade para fortalecer seu papel enquanto “farol de esperança”. Ele ressaltou a importância de um multilateralismo eficaz que promova a paz, a segurança interna e os direitos humanos, aconselhando que o foco deve ser na reforma da instituição, adaptando-a às novas realidades do mundo contemporâneo.
O discurso do arcebispo Gallagher na ONU é um chamado claro à ação, pedindo que a comunidade internacional una forças em prol da paz e do desenvolvimento, enfrentando desafios globais com solidariedade e compromisso ético.