A Keeta, nova aposta no mercado de delivery de refeições do Brasil, espera lançar suas operações no quarto trimestre de 2025. A subsidiária da chinesa Meituan, que já atua em Hong Kong e Oriente Médio, aposta na expertise adquirida ao longo de mais de uma década na China para desafiar o domínio do iFood, que concentra mais de 80% de participação no país.
Por que operar no Brasil?
O Brasil é o quinto maior mercado mundial em delivery, movimentando cerca de US$ 12 bilhões anualmente e crescendo aproximadamente 20% ao ano. Segundo Tony Qiu, responsável pela operação brasileira, o país oferece potencial de crescimento, especialmente com a abertura de mercado impulsionada pela limitação de contratos de exclusividade do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
“Estamos otimistas. O momento entre Brasil e China está favorável, e estamos investindo US$ 1 bilhão nos próximos cinco anos”, afirmou Qiu ao O Globo.
Desafios ao domínio do iFood e estratégias de competição
Qiu destacou que a “guerra” com outros players, como a 99Food, tem sido intensa. Ele afirmou que tentativas de bloqueio por meio de acordos de exclusividade prejudicam a competição saudável no mercado brasileiro. “No Brasil, um app concentra mais de 80% do mercado, diferente de outros países, onde há pelo menos três grandes concorrentes. Essa situação é peculiar e desafiadora”, explicou.
Ao contrário do que fazia na China, onde a exclusividade era comum até 2021, a Keeta não pretende seguir esse caminho no Brasil. “Acreditamos em um mercado aberto, com competição baseada no mérito. Não planejamos oferecer dinheiro aos restaurantes para bloqueá-los de outros aplicativos”, ressaltou Qiu. Segundo ele, essa prática é ilegal na Arábia Saudita e Hong Kong, onde também atua a empresa.
Técnologia e experiência como diferenciais
A Keeta pretende usar seu know-how tecnológico, acumulado na China, para oferecer um serviço superior. “Temos picos de 120 milhões de pedidos por dia na China, o que nos permite oferecer diferenciais como uma garantia de compensação ao cliente em caso de atraso na entrega”, afirmou Qiu. A empresa também avalia melhorar a experiência do usuário, que atualmente faz uma média de três pedidos por mês no Brasil, metade do que é registrado na China.
Criação de valor e futuras inovações
Por enquanto, a plataforma atuará apenas com delivery de comida, mas a empresa pensa em ampliar o serviço no futuro, usando sua tecnologia para criar uma experiência mais completa. O lançamento deve ocorrer inicialmente em uma cidade menor, antes de expandir para São Paulo e outras regiões.
“Planejamos presença nas 15 maiores regiões metropolitanas até junho de 2026”, explicou Qiu. A expectativa é de que até o fim do próximo ano, mais de 120 mil entregadores estejam cadastrados na plataforma, sendo a maior parte em São Paulo.
Regulação e taxas
Quanto às taxas cobradas dos restaurantes, Qiu afirmou que a Keeta pretende aplicar uma comissão menor que a atual do iFood, que varia entre 25% e 30%. “Nossa taxa será alguns pontos percentuais abaixo, pois achamos o valor atual excessivo”, afirmou. A empresa não pretende adotar a estratégia de oferecer comissão zero, alegando que essa prática, embora anunciada por outros, na prática não existe.
Sobre o uso de drones para entregas, a Keeta já registra marca no Brasil, mas aguarda regulações específicas para viabilizar essa tecnologia no futuro, segundo Qiu. “Talvez, no futuro, possamos usar drones, conforme a regulação evoluir”, completou.