Em um mundo dominado pela fotografia digital, onde a instantaneidade e a facilidade são a norma, o fotógrafo Gustavo Castellon, de 45 anos, decidiu fazer o oposto. Ele resolveu mergulhar no passado e recuperar uma técnica quase esquecida da fotografia analógica: a kallitype — ou kalitipia, em português. Criada há cerca de 180 anos, no século XIX, essa técnica utiliza metais nobres como ouro, prata e platina para produzir imagens únicas e duradouras, repletas de valor artístico.
Kallitype: uma viagem ao passado fotográfico
A kallitype se destaca por seu método laboratorial, que requer conhecimento técnico, paciência e um carinho especial com cada processo envolvido. Ao contrário da fotografia digital, onde a facilidade de captura pode resultar em imagens sem alma, a kallitype transmite uma sensação de autenticidade e valor, resultado da interação direta do artista com a matéria-prima.
Castellon, que sempre teve paixão pela fotografia, se aprofundou nos estudos sobre o processo e suas características. Determinado a dominá-lo, realizou testes em seu estúdio e, após diversas tentativas, conseguiu obter resultados que o surpreenderam: imagens com uma qualidade estética e emocional que só as técnicas tradicionais podem proporcionar.
O processo de criação
O processo de kallitype envolve a preparação de papéis especiais, que são tratados com soluções à base de ferro e outros metais nobres. Assim que o papel está pronto, o fotógrafo pode aplicar suas imagens, utilizando fontes de luz natural ou artificial para expor o papel sensibilizado. Após a exposição, as imagens são tratadas em um banho químico, onde a magia realmente acontece: as imagens começam a aparecer, revelando nuances e detalhes que as tornam verdadeiras obras de arte.
Um futuro promissor
O resgate dessa técnica não apenas destaca o talento de Castellon, mas também aponta para um renovado interesse pelo processo de criação manual nas artes visuais. Em uma era onde tudo é imediato, muitos estão buscando um retorno às origens, seja pela busca de uma conexão mais profunda com a arte, ou pela valorização do tempo e do esforço envolvidos na produção de uma imagem.
Com exposições e workshops planejados, Castellon espera compartilhar essa filosofia com outros entusiastas da fotografia. Ele acredita que há um público aberto para descobrir e apreciar o que a kallitype tem a oferecer. “É um retorno ao que tem valor intrínseco, à beleza do feito à mão”, reflete Castellon, que já está colhendo os frutos de seu trabalho com uma crescente demanda por suas obras.
A relevância cultural da kallitype
A relevância da kallitype, além de sua exclusividade estética, reside no seu contexto histórico e cultural. Esta técnica foi uma das precursoras do que viria a se transformaro na fotografia moderna, e seu uso ajuda a preservar não apenas uma forma de arte, mas um pedaço de história da fotografia. A prática de técnicas antigas pode também inspirar uma nova geração de fotógrafos a explorar o potencial artístico da fotografia analógica.
À medida que muitos artistas e amantes da fotografia reúnem-se para celebrar essa forma de expressão, a contribuição de Castellon se torna ainda mais significativa. Seu trabalho não é apenas um testemunho do que é possível com técnicas tradicionais, mas uma luz que brilha sobre todo um capítulo da fotografia que muitos já consideravam perdido.
Conclusão
O trabalho de Gustavo Castellon com a kallitype é um convite a todos nós para reavivarmos o respeito pelo processo artístico e a valorização do tempo que dedicamos à criação. Em meio à velocidade e ao consumo absurdo das imagens digitais, a ressurgência de técnicas como a kallitype nos impede de esquecer a beleza que reside na arte feita à mão. Para Castellon, cada imagem criada é não só uma fotografia, mas uma parte de sua própria história — e uma nova página na longa narrativa da história da fotografia.