No último dia 15 de setembro, a Polícia Civil de São Paulo concluiu um inquérito que resultou no indiciamento do deputado estadual Lucas Diez Bove (PL) por crimes de perseguição e violência psicológica em detrimento de sua ex-esposa, a influenciadora digital Cíntia Chagas. O caso reflete a urgência do debate sobre a violência contra a mulher no Brasil e levanta questões sobre a responsabilidade de autoridades em casos de abuso.
A conclusão do inquérito e suas implicações
Com um relatório extenso de 60 páginas, a investigação da 3ª Delegacia de Defesa da Mulher trouxe à tona diversas provas que indicam que Bove submeteu Cíntia a ameaças e chantagens. Durante depoimento, Chagas revelou que o deputado a ameaçou de arruinar sua carreira profissional caso não concordasse com cláusulas abusivas em contratos. Além disso, ela relatou que Bove tentou intimidá-la utilizando vídeos editados para denegrir sua imagem nas redes sociais, onde possui mais de 6 milhões de seguidores.
A violência psicológica, embora muitas vezes invisibilizada, pode causar danos tão severos quanto a violência física. A delegada Dannyella Gomes Pinheiro enfatizou que a insistência nos contatos, mesmo após a separação, foi uma forma clara de perseguição, de acordo com a legislação brasileira, especificamente os artigos 147-A e 147-B do Código Penal e a Lei Maria da Penha.
O contexto da relação e os primeiros relatos de abusos
Cíntia Chagas não só fez a denúncia mais recente, mas já havia relatado uma série de abusos durante o relacionamento de dois anos com Lucas Bove, que culminaram em uma medida protetiva concedida pela Justiça em 2024. Seus relatos de abusos físicos e psicológicos foram corroborados por testemunhas, incluindo sua assessora, que confirmaram episódios de controle e menosprezo.
Embora a investigação não tenha resultado no indiciamento por lesão corporal devido à falta de provas suficientes sobre as agressões físicas, o contexto de ameaças e controle foi amplamente documentado. As marcas roxas apresentadas pela influenciadora levantaram dúvidas, mas fazem parte de um espectro mais amplo de violência que não deve ser negligenciado.
Medida cautelar e o papel do Ministério Público
Além dos crimes investigados, Bove solicitou uma medida cautelar que proibia Cíntia de fazer publicações sobre o caso nas redes sociais, alegando violação de sigilo. No entanto, o Ministério Público contestou essa medida, apontando que não havia uma investigação voltada para a influenciadora, e sugeriu sua revogação, argumentando que a proibição poderia gerar violência institucional contra a vítima.
O promotor Fernando Cesar Gomes de Souza destacou que, em casos similares, a Justiça tende a permitir a expressão de vítimas de violência doméstica, reforçando a necessidade de proteção à liberdade de expressão, especialmente em contextos de abuso.
Referência para outras mulheres e o impacto social das denúncias
Em declarações à mídia, Cíntia Chagas expressou seu desejo de que sua denúncia inspire outras mulheres a se manifestarem e buscarem ajuda. “Um praticante recorrente de violência contra mulheres jamais poderia legislar como deputado”, afirmou, enfatizando a importância de responsabilizar autoridades que perpetuem a violência. Sua defesa considerou o indiciamento uma vitória, embora a luta para incluir a violência física no processo continue.
Por outro lado, a defesa de Bove apresentou testemunhos que negam as acusações, afirmando que o deputado sempre se comportou de forma respeitosa. Bove, em um vídeo publicado em suas redes sociais, afirmou que a verdade prevalecerá e negou ter cometido qualquer agressão, enfatizando as dificuldades que enfrenta devido ao processo judicial.
Considerações finais
O caso de Lucas Bove e Cíntia Chagas ilustra a complexidade da violência contra a mulher e a importância de dar voz às vítimas. Em um cenário onde a impunidade pode prevalecer, as ações de denúncias e investigações são cruciais para o fortalecimento da justiça e a proteção dos direitos das mulheres. A luta por uma sociedade mais justa segue, e é vital que cada história de coragem, como a de Cíntia, seja ouvida e respeitada.