De 25 a 28 de setembro de 2025, Manaus será palco do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (MUTICOM), que terá como tema central “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa.” O evento, que promete reunir mais de 400 participantes, visa refletir sobre as práticas e políticas de comunicação relacionadas à proteção do meio ambiente e à promoção do cuidado com a nossa “casa comum,” como frisou o cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus.
Objetivo do MUTICOM
O MUTICOM tem uma proposta clara: “abordar a questão de uma ecologia integral, mas especialmente chegar ao cuidado cada vez maior da nossa casa comum,” conforme afirmou o cardeal Steiner. Dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ressaltou que o evento será um espaço de partilha e reflexão, utilizando uma metodologia sinodal centrada na escuta, com o intuito de discutir as práticas comunicativas em relação às questões ambientais.
A importância do evento se torna ainda mais evidente quando se considera a diversidade de atores que têm contribuído para sua realização, incluindo parcerias com vários setores da sociedade. Dom Edilson Soares Nobre, bispo de Oeiras (PI) e membro da Comissão para a Comunicação da CNBB, enfatizou que “pensar a comunicação levando em consideração a ecologia integral é fundamental, pois diz respeito à nossa sobrevivência e ao nosso modo de agir.”
Povos indígenas e desafios ambientais
A questão da ecologia integral é particularmente crítica para os povos indígenas, frequentemente ameaçados por interesses econômicos. Durante uma reunião recente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o cardeal Steiner denunciou que “os povos indígenas estão sendo caçados por motivo econômico,” em função dos avanços do agronegócio e da mineração sobre suas terras. Essa realidade precisa ser discutida amplamente no MUTICOM, segundo o cardeal, para que se possa refletir sobre o sistema econômico que está destruindo o meio ambiente.
“Conseguiremos gradualmente perceber que a destruição do meio ambiente vem de um sistema que se impõe cada vez mais sobre nossas relações,” destacou Steiner. Ele ressaltou que é necessário abrir os olhos para a injustiça que permeia essa abordagem econômica, que está intimamente ligada à política.
A visão de um mundo fraterno
O cardeal Steiner fez um chamado urgente para que o MUTICOM promova uma reflexão sobre o verdadeiro significado de uma ecologia integral: “Se quisermos uma casa comum, não pode ser no horizonte do econômico, mas no horizonte da fraternidade.” Isso implica numa revisão de prioridades, reafirmando que a missão da Igreja deve ser guiada por princípios de harmonia e fraternidade, não simplesmente pelos interesses do mercado.
Steiner argumentou que é preciso desmontar esquemas que favorecem uma visão mercantilista das relações. Ele alertou que decisões políticas, como as que vêm do Congresso Nacional, têm raízes em interesses econômicos que muitas vezes ignoram as necessidades de proteção ao meio ambiente e aos direitos dos povos indígenas. “Nós como Igreja temos um horizonte que busca relações harmônicas, que refletem o Reino de Deus,” disse o arcebispo.
Uma responsabilidade compartilhada
O MUTICOM não é apenas uma discussão sobre comunicação e ambiente; é um espaço para fomentar a responsabilidade coletiva por nossa casa comum. “A obra criada tem uma fundamentação teológica e somos chamados a agir de forma que todas as criaturas tenham seu espaço e oportunidade de florescer,” afirmou Steiner. Ele reiterou que a harmonia e a fraternidade são essenciais para uma convivência saudável e sustentável.
“Precisamos tirar as mãos da Amazônia,” desafiou o cardeal, referindo-se à exploração predatória que a região enfrenta. Essa afirmação ressoa com a afirmação do Papa Francisco: é um chamado à consciência sobre como as relações estão distorcidas e à necessidade de cura e reconciliação com a criação.
O 14º MUTICOM tem, portanto, a missão de ser uma ponte para debates mais amplos sobre ecologia, comunicação e espiritualidade, buscando inspirar ações que promovam a justiça e a sustentabilidade de forma integral.
