Recentemente, Dom Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais da Santa Sé, fez declarações contundentes nas Nações Unidas sobre questões nucleares e a crescente ameaça da Inteligência Artificial (IA) no rearmamento militar. Durante a XIV Conferência para facilitar a entrada em vigor do Tratado de Proibição de Testes Nucleares, o arcebispo enfatizou a necessidade urgente da ratificação deste tratado, que há 29 anos aguarda a total validação internacional.
Tratado de Proibição de Testes Nucleares: Um compromisso necessário
Durante o evento, realizado em 26 de setembro, Dom Gallagher destacou que a não ratificação do Tratado de Proibição de Testes Nucleares representa uma “realidade deplorável” que compromete os esforços globais para barrar os testes nucleares. Ele apelou a todos os Estados a considerarem suas responsabilidades éticas frente a um contexto global marcado por conflitos e desrespeito à dignidade humana.
O arcebispo ressaltou que “a paz não pode ser garantida pelo medo recíproco ou pela lógica da dissuasão”, um ciclo que apenas perpetua a ideia de que segurança se alcança por meio da destruição mútua, afirmando que os testes nucleares têm consequências devastadoras tanto para a humanidade quanto para o meio ambiente.
O caminho do diálogo e da justiça
Citando palavras do Papa Leão XIII, Dom Gallagher pediu que a sociedade abandone a lógica da guerra, promovendo o diálogo e a justiça. O apelo é para que, em vez de perpetuar rivalidades, a humanidade busque soluções pacíficas e justas para os conflitos. O Tratado reflete a vontade da comunidade internacional de escolher a fraternidade em detrimento da destruição e da inimizade.
Além disso, o arcebispo reiterou a disposição da Santa Sé em colaborar com esforços que visem construir uma paz duradoura, fundamentada no bem comum da humanidade. A intenção é unir forças para garantir um futuro sem armas nucleares, que ameaça não apenas nosso presente, mas também as gerações futuras.
Ameaça das armas nucleares e a pressão do rearmamento
Na reunião de alto nível que celebrou o Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares, Dom Gallagher também refletiu sobre o 80º aniversário do primeiro teste nuclear no Novo México e os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Ele reconheceu a dor e o sofrimento gerados por essas tragédias e alertou para a continuidade da ameaça que as armas nucleares representam para a paz global. O arcebispo expressou preocupações sobre o rearmamento em massa, que contrasta com as verdadeiras iniciativas de promoção do desenvolvimento humano e da paz.
A integração da inteligência artificial no contexto militar
Um aspecto alarmante que foi abordado pelo arcebispo foi o uso crescente da Inteligência Artificial em sistemas militares. Ele observou que a nova corrida armamentista que incorpora a IA pode “normalizar o que deveria permanecer inequivocamente inaceitável”, como a produção e posse de armas nucleares. As dinâmicas atuais, favoráveis à militarização, colocam em risco a já frágil estrutura de desarmamento construída ao longo de décadas.
Rumo a um mundo sem armas nucleares
A Santa Sé reiterou seu apelo à comunidade internacional para que reforce seu compromisso com o desarmamento. A ratificação do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e a adesão ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares são vistas como passos concretos em direção à construção de um mundo livre de armas nucleares. O secretário Gallagher enfatizou que é imperativo agir rapidamente para prevenir as catástrofes humanitárias que teriam como consequência o uso de armas nucleares.
Além disso, ele chamou a atenção para a necessidade de revitalizar processos bilaterais de controle de armas e iniciar negociações relativas ao desarmamento, de forma a assegurar que o desarmamento internacional permaneça uma prioridade em um mundo em constante mudança.
O apelo de Dom Gallagher é um convite à reflexão sobre o papel da humanidade e a responsabilidade coletiva em garantir que a paz e o respeito à vida prevaleçam em um cenário geopolítico cada vez mais complexo e instável.