Uma preocupante realidade se revela nas escolas e creches do Rio de Janeiro, onde a violência armada tem impactado severamente o cotidiano de alunos e educadores. Um levantamento da Secretaria Municipal de Educação (SME) revelou que diversas instituições ficaram sem aulas por longos períodos, algumas chegando a 29 dias, em razão da criminalidade que assola as regiões da cidade. A situação se torna ainda mais alarmante quando se considera que, em muitos locais, os criminosos proíbem a instalação de câmeras de segurança, comprometendo assim a proteção de crianças e profissionais.
Impacto da violência na educação
Na última semana, um incidente chocante ocorreu em uma creche municipal em Vicente de Carvalho, onde três homens armados invadiram o local, que estava cheio de bebês. O ataque resultou em pelo menos quatro disparos dentro da unidade, que, lamentavelmente, não possuía câmeras de segurança. Segundo o secretário de Educação do Rio, Renan Ferreirinha, essa tem sido uma realidade em diversos estabelecimentos de ensino, especialmente em áreas mais conflagradas, onde a presença de criminosos desencoraja a instalação de equipamentos de monitoramento.
Regiões mais afetadas e interrupções de aulas
De acordo com o levantamento da SME, até 31 de agosto de 2025, algumas áreas da cidade se destacam pelas extensas interrupções nas aulas. As regiões mais afetadas incluem:
- Chapadão: 39 escolas, 29 dias de interrupção
- Juramento: 5 escolas, 28 dias
- Vila Kennedy: 17 escolas, 22 dias
- Serrinha: 4 escolas, 22 dias
- Morro do Trem (Vila Kosmos): 4 escolas, 21 dias
As interrupções em larga escala não apenas afetam a rotina escolar, mas também comprometem o aprendizado dos estudantes. O Unicef alerta que as crianças e adolescentes que vivem sob o controle do crime podem perder até seis meses de aprendizado se comparados com aqueles que habitam regiões menos afetadas.
O cotidiano sob ameaça
Em meio a essa realidade alarmante, diretoras e professores relatam uma rotina marcada pelo medo e pela insegurança. Uma diretora de uma escola em uma região dominada pelo tráfico, que preferiu permanecer anônima, expressou a frustração de ter que ensinar os alunos a se protegerem durante os tiroteios. “Ninguém imagina que vai ensinar o aluno a andar abaixado, se proteger na parede… É frustrante, mas, ao mesmo tempo, dá ânimo: a educação é necessária ali. Todos os dias estamos lá, mesmo arrastando freezer ou abrindo barricada”, afirmou.
Protocolos de segurança em vigor
Para tentar minimizar os riscos, a Prefeitura do Rio implementou protocólos de segurança que vão desde a monitorização das áreas até a classificação das situações em diferentes cores, como verde (funcionamento normal), amarelo (conflitos próximos, mas sem suspensão de atividades) e vermelho (situação crítica que requer que crianças e funcionários se abriguem). No entanto, há segmentos em que esses protocolos falham. Um registro de câmeras de segurança em uma escola no Engenho Novo mostrou a invasão de um criminoso armado que roubou a moto de um funcionário, evidenciando a vulnerabilidade das instituições de ensino mesmo com medidas de segurança em prática.
A importância da educação em tempos de crise
A situação das escolas e creches no Rio de Janeiro não deve ser vista apenas sob a ótica da violência, mas também da resiliência. Mesmo diante de um cenário desolador, educadores continuam em suas missões diárias, comprometidos com a educação das crianças, reconhecendo que a escola é um espaço essencial para a formação e desenvolvimento dos jovens. O ambiente escolar deve ser seguro e propício ao aprendizado. O desafio agora é garantir que essa realidade mude, permitindo que alunos e educadores possam viver e aprender sem a sombra constante da violência armada.