O projeto “Curumim BJJ” está transformando a rotina de crianças indígenas na Aldeia Teko Haw, em Brasília, por meio do jiu-jitsu. Com o objetivo de promover disciplina e fortalecer laços culturais, a iniciativa já conta com cerca de 50 alunos que se reúnem a cada duas semanas para praticar a arte marcial.
O que é o “Curumim BJJ”?
Iniciado em 2023, o projeto oferece aulas de jiu-jitsu para crianças de diferentes etnias, predominantemente Guajajara, que habitam esta aldeia situada em uma das áreas mais valorizadas da capital federal. O mestre Daniel Linco, educador físico e faixa preta, é quem comanda as atividades, que duram cerca de duas horas e incluem também um lanche especial após o treino, tudo isso custeado majoritariamente por ele.
As aulas acontecem em um espaço coberto e decorado com grafismos indígenas, criando um ambiente que articula o respeito pelas tradições locais e pelos valores do jiu-jitsu, como disciplina e coletividade. Um dos atrativos do projeto é que as crianças têm a oportunidade de competir em campeonatos, onde já obtiveram êxito, refletindo a dedicação e o esforço que colocam em cada aula.
Impacto nas vidas das crianças
A transformação na vida dos pequenos é notável. Yemy Kael, de 11 anos, é um dos exemplos. Antes do jiu-jitsu, ele não se interessava por esportes e apresentava timidez. Segundo seu pai, a atividade trouxe mais disciplina, respeito e uma nova postura social: “Agora ele se relaciona muito mais com as crianças”, destaca Kaone, seu pai.
Outro aluno, Deywyd Souza, de 15 anos, tornou-se um “monitor” do projeto. Ele já participou de competições de jiu-jitsu e, imerso na filosofia e na prática do esporte, sente que a experiência o transformou. “O jiu-jitsu mudou minha vida! Aprendi a me defender e a ter mais disciplina”, compartilha ele, ressaltando a importância de ajudar os mais novos durante as aulas.
Cultura e intercâmbio
As aulas de jiu-jitsu também promovem um valioso intercâmbio cultural. Os alunos da academia que ajudam nas aulas têm a chance de conhecer mais sobre o cotidiano dos indígenas. Eles se integram, conhecendo as casas, os objetos tradicionais e até aprendendo sobre a cultura e as línguas nativas. Este diálogo cultural tem um impacto positivo, promovendo a troca e o respeito entre os participantes.
Desafios e futuro do projeto
Apesar do sucesso do “Curumim BJJ”, o projeto enfrenta desafios financeiros. Cada visita à aldeia implica um custo médio de R$ 300 para manutenção das atividades, além das despesas com viagens para campeonatos. Daniel está realizando trâmites para a abertura de um instituto, visando a captação de recursos e a realização de aulas semanais, que ainda são inviáveis devido à falta de verba.
A esperança é que, com o apoio da comunidade e doações, seja possível ampliar as atividades e oferecer um espaço seguro e educativo para mais crianças. As interações nas redes sociais têm sido uma ferramenta crucial para angariar apoio e recursos, assim como o envolvimento da comunidade, que se une para ajudar a manter o projeto vivo.
Legado e transformação social
O projeto “Curumim BJJ” não é apenas uma iniciativa esportiva, mas uma verdadeira missão de transformação social e cultural. Os ensinamentos do jiu-jitsu vão além das técnicas, incorporando valores fundamentais que ajudam a moldar não apenas os atletas, mas também cidadãos conscientes e respeitosos com suas tradições.
“O que eu quero ver é essas crianças crescerem enquanto estou presente. Enquanto elas crescem, eu vou treinando mais para conseguir evoluir e mostrar para elas que é bom participar do esporte,” finaliza Deywyd, em um testemunho apaixonado sobre o impacto positivo que o jiu-jitsu pode fazer na vida de todos envolvidos.
O “Curumim BJJ” é um exemplo brilhante de como o esporte pode ser uma ferramenta poderosa para o empoderamento e a valorização cultural, trazendo esperança e formação para a juventude indígena.