Desde agosto de 2025, a tentativa de Donald Trump de assumir controle de Washington, D.C., sob o pretexto de combater o crime, acende um alerta para o estado da democracia nos Estados Unidos. Sua ação, que envolveu a mobilização de forças federais e estaduais, evidencia uma preocupação maior com o uso excessivo de força do que com o combate efetivo à criminalidade.
Militarização de Washington como risco à democracia
Presidentes anteriores combateram o crime sem recorrer à violência desproporcional ou à militarização das cidades. Porém, a intervenção de Trump na capital, com o envio de 500 agentes federais das Forças de Segurança, FBI, DEA, além de 950 soldados da Guarda Nacional de D.C., demonstra um uso indevido do poder presidencial. Governadores de estados republicanos também enviaram mais de 1.300 tropas, ampliando o aparato de força.
Essa mobilização, que na prática lembra uma operação militar, não foi direcionada às áreas de alta incidência criminal. Segundo dados da Polícia de D.C., a taxa de criminalidade vem caindo desde 2023, fato que sugere que o aumento do aparato de força não tem relação direta com a redução do crime. A ação, apenas, reforça uma estratégia de intimidação, mais alinhada ao combate de uma insurgência do que ao enfrentamento de problemas sociais.
Imagens de abuso de autoridade e violações constitucionais
Vídeos divulgados após o anúncio da “emergência contra o crime” mostraram agentes federais abordando pessoas sem suspeita aparente, além de ações violentas, como um homem sendo derrubado por agentes encapuzados. Ainda, verificaram-se postos de bloqueio na cidade, ações potencialmente ilegais segundo o Supremo Tribunal Federal, que já decidiu que pontos de fiscalização aleatórios violam o direito de privacidade.
Outro ponto preocupante é o foco das operações: muitos prisões ocorreram por violações migratórias, além de operações em áreas com pouca criminalidade, especialmente aquelas com forte fluxo turístico. São ações que parecem mais estratégias de exposição midiática do que medidas de segurança eficazes.
Impactos na sociedade e na percepção de segurança
Muеrеl Bосkеr, prefeita de D.C., revelоu que a criminalidade na cidade vinha caindo antes do aumento da força federal. Ainda assim, a sensação de insegurança aumentou entre os moradores e turistas, refletida na queda do turismo e na retração do comércio local. Muitos questionam se as ações de Trump não estão mais relacionadas a uma estratégia política de punição aos adversários democratas do que a uma necessidade real de segurança pública.
Perspectivas políticas e o futuro da democracia americana
O episódio evidencia uma ameaça séria à democracia: a possibilidade de uso do aparato estatal para intimidar opositores políticos, transformando o que deveria ser uma questão de segurança pública em uma demonstração de poder e autoritarismo. Especialistas alertam que se essa lógica for aceita pela população, a linha entre estados de direito e regimes autoritários pode se tornar tênue.
Enquanto Washington já vive um clima de tensão, outras cidades lideradas por democratas, como Chicago, Los Angeles e Nova York, podem se tornar próximos alvos da estratégia de Trump. O momento exige reflexão sobre o limite do poder presidencial e a defesa dos valores democráticos que sustentam os Estados Unidos.