Nesta última semana, recebemos a triste notícia da morte de Álvaro da Camélia Flores, aos 84 anos. Embora muitos não o reconhecessem pessoalmente, o nome de Álvaro ecoava nas memórias de uma época em que o rádio e o futebol eram parte indissociável da vida carioca. A marca que ele deixou em meio aos torcedores vai muito além de uma simples fisionomia.
O impacto de Álvaro da Camélia no imaginário esportivo
Me lembrar de Álvaro é reviver as jornadas radiofônicas que faziam parte das tardes de futebol da nossa adolescência. Ele era a voz acolhedora que, em cada transmissão, sempre se despedia ao lado de um “um abraço para o Álvaro da Camélia Flores! Grande Álvaro da Camélia!” O sentimento daquele abraço, que parecia ser um cumprimento coletivo, se tornava um símbolo da nossa identidade como torcedores, como um elo que nos unia todos em volta do rádio.
A memória afetiva do Maracanã
Aquele abraço se tornava meu também, ecoando em minha mente enquanto eu voltava do estádio, tomado pela emoção de uma vitória ou pela tristeza de uma derrota. O Maracanã, com sua arquitetura imponente e seu chão batido, era mais do que um campo de futebol; era um palco das nossas vidas, misturando o concreto das arquibancadas com uma energia vibrante. Lembro das vozes dos repórteres de campo em meio à poeira e aos gritos da torcida, especialmente quando ecoava: “O abraço… do nosso timaço!”
Essas memórias auditivas são fragmentos de um passado que se distanciam, mas que, de alguma forma, continuam vivos em nossa nostalgia. O Maracanã que vivemos não tinha o conforto de hoje, mas era essencialmente carioca e brasileiro — uma verdadeira metáfora da cidade. Mesmo quando as chuvas alagavam os vestiários e o gramado, ou quando se formava um desenho no campo, era aquele caos que tornava tudo mais autêntico.
Reflexão sobre a nostalgia e a mudança no futebol
É comum guardarmos em nós uma imagem idealizada do passado, um tempo que, devido às dificuldades e reclamações, acaba por ser recheado de uma nostalgia quase romântica. Lembro-me de ouvir reclamações sobre a chuva que alagava tudo, um cenário que hoje parece tão distante. A mágica do rádio, com seus jingles e seu jabaculê, essa forma de publicidade característica, agora se transformou em algo mais formatado, mais digital, mas igualmente persistente.
No presente, o rádio é substituído por influenciadores digitais e casas de apostas, onde o jabá se reinventou em outra forma. O que antes era a Camélia, uma marca que unia os torcedores, hoje é o formato contemporâneo das apostas online — uma nova realidade que, talvez, os futuros jovens de hoje irão recordar com a mesma nostalgia que nós sentimos pelo passado.
Conexões que perduram
Conforme envelhecemos, é natural começar a sentir saudades não apenas do futebol, mas também dos momentos que vivemos com ele. Muitas dessas lembranças são coladas em forma de emoções que não podem ser apagadas. Álvaro da Camélia parte, mas seu legado vai se eternizar através das memórias que construiu junto ao rádio, ao futebol e às tardes no Maracanã. Afinal, é impossível não recordar com carinho de tudo isso ao caminhar em direção à sombra, quase escutando à distância a famosa frase: “O abraço… do nosso timaço!”
Assim, em um momento de despedida, celebramos a vida de Álvaro da Camélia Flores. Ligamos nossos sentimentos ao nostalgia e às memórias que, como ele, permanecem vivas no coração dos torcedores, eternizando um pedaço da nossa história.
A vida e a morte de Álvaro nos lembram que, por trás de cada nome conhecido, há uma história, uma conexão, um abraço coletivo que se perpetua ao longo das gerações.