No contexto da 14ª Assembleia Plenária da Associação Inter-Regional dos Bispos da África Austral (IMBISA), que está ocorrendo em Manzini, Eswatini, sob o tema “Uma caminhada sinodal, alimentada pela compaixão e florescendo na fé como peregrinos da esperança”, o bispo de Pemba, Dom António Juliasse F. Sandramo, fez um comovente apelo à oração e à solidariedade com o povo de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde a violência continua a ceifar vidas e a provocar deslocamentos em massa.
Uma assembleia histórica marcada pela solidariedade
A Assembleia, que celebra o Jubileu de Ouro da IMBISA, conta com a participação do maior número de bispos na história da instituição. A celebração eucarística de abertura oficial, presidida na quinta-feira, 25 de setembro, pelo Cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, foi marcada por uma forte atmosfera de oração pela paz. No final da missa, o Cardeal convidou todos a rezar pelos países em guerra, iniciando a oração com o nome de “Cabo Delgado”.
Em conversa com o portal Vatican News à margem da celebração, Dom Sandramo expressou sua profunda emoção diante desse gesto: “O gesto do Cardeal Czerny fez-me muito bem à alma e ao espírito. Senti que não estou sozinho, que os meus irmãos bispos se interessam e rezam connosco. Isso dá-me força para continuar a minha missão no meio do povo”, afirmou.
A situação em Cabo Delgado e o papel da Igreja
Além de agradecer à Santa Sé e ao Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral por acompanharem de perto a situação humanitária na região, Dom Sandramo destacou que “a Santa Sé e o Dicastério estão sempre a caminhar com o povo de Cabo Delgado”. A grave situação na região é alarmante, considerando que, segundo informações, nas últimas duas semanas, 14 pessoas foram decapitadas. “Tudo indica que não há uma solução imediata — a oração é a única resposta possível neste momento”, disse o bispo.
Sob sua perspectiva, a crise, embora prolongada e devastadora, parece estar caindo no esquecimento tanto dentro quanto fora de Moçambique. “Ontem mesmo uma aldeia foi atacada, aumentando o número de deslocados. Cabo Delgado parece um mundo à parte dentro do país. As pessoas vivem em constante fuga, procurando refúgio nas matas ou em zonas mais seguras”, lamentou.
Como membro do Comité Permanente da IMBISA e bispo responsável pela Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal de Moçambique, Dom Sandramo ressaltou que o Papa Leão XIV carrega no coração o sofrimento do povo de Cabo Delgado. “O Santo Padre fala de nós com frequência, mesmo sem grande visibilidade mediática. Ele recorda-nos que o sofrimento do nosso povo é também o sofrimento da Igreja”, complementou.
Reflexões sobre segurança e proteção do povo
A data da celebração — 25 de setembro, Dia das Forças Armadas em Moçambique — levou o bispo a refletir sobre o papel do exército e a necessidade de uma segurança centrada no bem comum. Dom Sandramo destacou: “As Forças Armadas existem para proteger o povo. Quando o povo sente que não é protegido, é natural que questione a sua utilidade. É preciso repensar que tipo de forças armadas queremos e que valores devem defender.”
No final de sua entrevista, o bispo lançou um apelo comovente à comunidade católica regional e internacional: “Não pedimos pena de Cabo Delgado, mas pedimos oração. Porque é na oração que encontramos a força para resistir e continuar a acreditar. A oração é a nossa maior força”, enfatizou Dom Sandramo.
A importância da oração e solidariedade na crise
A crise humanitária em Cabo Delgado é um reflexo de situações que muitas comunidades ao redor do mundo enfrentam. Os apelos feitos por líderes religiosos como Dom Sandramo não apenas ressaltam a importância da solidariedade, mas também inovam a maneira como a Igreja Católica e outras instituições de fé podem colaborar por um mundo melhor. Em tempos de incerteza, a oração se torna um elo de união e força para aqueles que sofrem.
A oração não é apenas um ato individual, mas também uma maneira de criar uma comunidade solidária que se preocupa com o bem-estar dos outros. O chamado à ação de Dom Sandramo reverbera não apenas entre católicos, mas entre todos que acreditam na paz e na dignidade humana.
Em resumo, a mensagem de Dom António Juliasse F. Sandramo nos convida a refletir sobre nosso papel enquanto indivíduos e membros de uma comunidade global, enfatizando que, embora a situação em Cabo Delgado seja desalentadora, a esperança e a solidariedade podem prevalecer através da oração e do apoio mútuo.