O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, embarcou em uma viagem para a Assembleia Geral da ONU com um itinerário pouco convencional, o qual, segundo analistas, tem como objetivo evitar sobrevoar países onde ele é procurado por crimes de guerra. A rota escolhida pela aeronave do premier, chamada “Asa de Sião”, evitou o espaço aéreo da Espanha e da França, de acordo com o site de monitoramento de voos Flight Tracker.
A maior preocupação de Netanyahu
Este planejamento estratégico pode estar relacionado a um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) em relação a Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por supostos crimes de guerra. A situação se torna ainda mais tensa com declarações do governo britânico, que indicou que o primeiro-ministro israelense poderia ser detido ao pousar no Reino Unido. Já a França admitiu que Netanyahu pode possuir imunidade, dada a condição de Israel como não membro do TPI.
A escolha da rota de voo gerou discussões nas redes sociais, com muitos convidados a refletir sobre o grau de isolamento diplomático de Israel sob a liderança de Netanyahu. Anshel Pfeffer, biógrafo de Netanyahu e correspondente do The Economist, comentou que poucos aspectos ilustram melhor a atual situação diplomática do país do que o trajeto tomado por seu primeiro-ministro. “O fato de ter que evitar países devido a um mandado de prisão é um sinal claro do isolamento em que ele colocou Israel”, observou Pfeffer.
Um voo sem imprensa e com mudanças na equipe
Além de estar voando sem jornalistas a bordo, a aeronave de Netanyahu também estava com a presença do chefe do Conselho de Segurança Nacional, Tzachi Hanegbi, questionável, uma vez que Hanegbi se posicionou contra determinadas ações militares em Gaza e, segundo rumores, está prestes a deixar o cargo.
Yanir Cozin, correspondente da rádio do exército israelense, ressaltou o quanto esse itinerário é incomum, explicando que o voo está prolongado para evitar um pouso emergencial em um local que poderia cumprir os mandados do TPI. “Eles alteram o plano de voo para não correr o risco de um imprevisto”, disse Cozin.
Impacto nas relações internacionais
A presença de Netanyahu na ONU ocorre em um momento delicado de transformações diplomáticas, onde países tradicionais aliados de Israel, como Reino Unido, França, Canadá, Austrália e Portugal, recentemente reconheceram o estado da Palestina, como resposta a ações contínuas de Israel em Gaza e a construção de assentamentos na Cisjordânia.
Logo antes de sua viagem, Netanyahu chegou a afirmar: “Estou indo com minha esposa para a Assembleia Geral da ONU e para Washington. Na Assembleia, irei contar a verdade dos cidadãos de Israel e dos soldados das IDF. Denunciarei líderes que querem conceder um estado a assassinos e estupradores no coração da Terra de Israel. Isso não acontecerá”. Essas declarações refletem a postura belicosa do primeiro-ministro a respeito dos conflitos na região.
Encontro com Trump em Washington
No entanto, o cerimonial programado em Washington inclui um encontro entre Netanyahu e o presidente dos EUA, Donald Trump, na próxima segunda-feira. O governo Trump criticou as iniciativas dos poderes ocidentais de reconhecer um estado palestino, mas espera-se que o presidente americano aconselhe Netanyahu a moderar sua resposta às últimas pressões diplomáticas.
Esse encontro relevante entre os dois líderes pode moldar não apenas as consequências das conversações de Netanyahu na ONU, mas também as futuras relações entre Israel e os países que vêm se distanciando sob seu governo, expressando preferência por fortalecer laços com os países árabes.
Com uma trajetória carregada de polêmicas e desafios, a viagem do primeiro-ministro à ONU destaca um período crítico para a diplomacia israelense e evidencia a complexidade das relações internacionais na atualidade.