O relatório de Estatísticas do Setor Externo de agosto, divulgado nesta sexta-feira pelo Banco Central, revela que o impacto do tarifão americano na economia brasileira foi menor do que se previa. Apesar do déficit nas transações correntes, houve uma redução em relação ao mesmo período do ano passado, impulsionada pelo avanço da balança comercial.
Indicadores positivos e a resposta do Brasil ao tarifão
As transações correntes apresentaram déficit de US$ 4,7 bilhões em agosto, frente a US$ 7,2 bilhões de agosto de 2024. Este resultado é parcialmente atribuído ao fortalecimento do superávit da balança comercial, que aumentou R$ 1,7 bilhão na comparação anual, atingindo US$ 5,5 bilhões frente a US$ 3,7 bilhões no ano passado, conforme apontam os dados do BC.
Exportações brasileiras se ajustam ao impacto tarifário
A economista Lia Valls, pesquisadora do FGV Ibre e professora da Uerj, explica que os exportadores fizeram um reajuste, diversificando mercados. “No último Icomex, observamos um aumento nas vendas para os EUA em julho, como antecipação ao tarifão, mas em agosto houve uma queda em relação ao mesmo mês de 2024. Ainda assim, as exportações para o resto do mundo aumentaram”, destaca.
Estabilidade do setor externo e perspectivas futuras
Alexandre Pires, professor de Economia do Ibmec-SP, avalia que os dados indicam uma certa estabilidade do setor externo. Apesar de não identificarem efeitos claros da sobretaxa dos EUA sobre os produtos brasileiros, Pires afirma que é importante monitorar possíveis impactos futuros, como ajustes na produção ou na área cultivada.
“O Brasil mostrou resiliência econômica, especialmente no setor externo, que conseguiu se adaptar rapidamente a essa nova fase”, revela Pires. Ele acrescenta que, embora haja uma desaceleração prevista, o cenário atual não aponta para uma crise de confiança mais severa, o que é positivo para as expectativas de crescimento.
Desafios e fragilidades externas do Brasil
Apesar dos resultados favoráveis, Pires alerta que as contas externas brasileiras continuam frágeis. O investimento estrangeiro direto cresceu, passando de US$ 1,1 bilhão para R$ 2,3 bilhões, embora still seja considerado baixo. “Precisamos desses investimentos para cobrir o déficit das transações correntes”, afirma.
Sérgio Goldenstein, economista-chefe da Warren, enfatiza a deterioração das contas externas ao longo de 2025, mesmo com o superávit comercial de US$ 37,5 bilhões no acumulado do ano, abaixo dos US$ 48 bilhões de 2024. Segundo ele, a forte presença dos Estados Unidos como investidor e o crescimento nas importações, que aumentaram 6,1%, refletem uma economia aquecida, mas aumentam a vulnerabilidade do país.
Consequências e próximos passos
O déficit em transações correntes, que atingiu US$ 76,2 bilhões em 12 meses até agosto, representando 3,5% do PIB, supera os investimentos diretos no país, de US$ 69 bilhões. Essa dinâmica evidencia a necessidade de diversificação e fortalecimento da economia externa brasileira, especialmente em um cenário de alta volatilidade internacional.
Especialistas ressaltam que, apesar da capacidade de resistência, o Brasil precisa cuidar de suas contas externas e ampliar o fluxo de investimentos de longo prazo. A continuidade do acompanhamento das políticas econômicas e das relações comerciais será essencial para manter essa estabilidade relativa.
Para mais detalhes, acesse a fonte completa.