Quase cem agricultores franceses protestaram nesta sexta-feira diante do Palácio de Versalhes, na França, contra o projeto de acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. O movimento, convocado pelo sindicato FNSEA, expressa o temor de que seus mercados sejam inundados com carne, açúcar e arroz provenientes de países como Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Medo de influxo de produtos do Mercosul e impacto no setor agrícola
Os agricultores franceses temem que o acordo permita a entrada de produtos agrícolas com custos menores, prejudicando a produção local. “Não tenho mais visibilidade nem margem de manobra”, afirmou Pascal Verriele, membro do FNSEA, que trabalha há 40 anos no setor. “Tudo isso desestabiliza nossas fazendas”, completou.
Protesto e mobilização nacional
Convocados pelo sindicato agrícola FNSEA e aliados dos Jovens Agricultores, cerca de 70 ações foram organizadas em todo o país, incluindo manifestações em Paris. Na manifestação em Versalhes, os agricultores acenderam uma fogueira e sinalizadores verdes, além de usar tratores na entrada do palácio. Segundo os organizadores, quase 3.000 participantes devem envolver as ações em todo o território nacional.
Repercussões e tensões com o governo francês
O líder do FNSEA, Arnaud Rousseau, declarou que a mobilização visa, sobretudo, chamar a atenção do presidente Emmanuel Macron para as preocupações do setor. “A mobilização é, evidentemente, para alertar o chefe de Estado, que deve agir”, afirmou. Os sindicatos alertam que podem convocar novos protestos durante o inverno do hemisfério norte, caso suas reivindicações não sejam atendidas.
Contexto do acordo e impactos previstos
O acordo entre Mercosul e União Europeia, que cria uma zona de livre comércio com um PIB de US$ 4,3 trilhões, encontra resistência no setor agrícola europeu. Especialistas apontam que o processo de ratificação foi iniciado pela Comissão Europeia em setembro, com o objetivo de reforçar medidas de salvaguarda para proteger produtos europeus. No entanto, a frustração de agricultores e pecuaristas franceses permanece elevada, alimentando temores de destruição de seus mercados internos.
Segundo Pascal Verriele, essa sensação de insegurança é agravada pelas cotas de importação isentas de tarifas,” que beneficiam também a Ucrânia, desestabilizando as nossas fazendas”.
O debate sobre o acordo segue acalorado, com a expectativa de que novas manifestações possam intensificar-se ao longo do inverno europeu, caso não haja avanços nas negociações de salvaguarda. A França, por sua vez, tenta equilibrar interesses comerciais e a proteção do setor agrícola nacional.
Para compreender melhor os impactos do acordo, leia também a validação do processo pela Comissão Europeia.