Durante a 80ª Assembleia Geral da ONU em Nova York, líderes do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) se reuniram com o presidente Donald Trump em meio a um clima de apreensão crescente. A recente ofensiva israelense sobre um país do Golfo intensificou as dúvidas sobre a segurança garantida pelos Estados Unidos na região.
Saídos do roteiro: Aliança com Paquistão e sinal de alerta
Após o ataque aéreo israelense, a Arábia Saudita, maior país do CCG, firmou um tratado de defesa mútua com o Paquistão, potência nuclear. A decisão, que aparentemente não foi comunicada aos Estados Unidos antes da assinatura, indica uma tentativa de reforçar a própria segurança frente às limitações percebidas na proteção americana.
“Essa parceria com o Paquistão não visa a afastar os EUA, mas sim complementar a segurança regional diante de ameaças persistentes”, afirmou Firas Maksad, analista de relações internacionais. A medida reflete uma estratégia de autonomia dos Estados do Golfo, buscando reduzir a dependência exclusiva de Washington.
Histórico de desconfiança e episódios recentes
As tensões entre os países do Golfo e os EUA remontam há mais de uma década. Desde a negociação do acordo nuclear com o Irã, sem consultas às lideranças do CCG, até ataques de drones e mísseis iranianos a instalações sauditas em 2019, a percepção de vulnerabilidade só aumentou.
A ofensiva israelense contra negociadores do Hamas, em Doha, foi mais um episódio que alimentou o sentimento de insegurança. “Israel crossing a linha vermelha enfraquece a confiança na disposição dos Estados Unidos de manter o equilíbrio regional”, avalia Maksad.
Atitudes de Netanyahu e riscos de mudança na geopolítica
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declara-se combate “em sete frentes”, sugerindo planos de redefinir a região além da luta contra o Hamas. A ocupação de territórios no Líbano e Síria e a possibilidade de anexar partes da Cisjordânia assustam os líderes do Golfo.
Para os países árabes, tais movimentos, aliados de Washington, representam ameaças à estabilidade regional e desafiam as garantias de segurança americanas. “A postura de Israel é não apenas provocativa, mas também potencialmente desestabilizadora”, reforça Maksad.
Aliados estratégicos e desafios atuais
Apesar das tensões, o Golfo continua sendo parceiro valioso dos EUA: suas reservas energéticas, fundos soberanos e investimentos em títulos do Tesouro americano sustentam a economia e a supremacia financeira de Washington. Trump, por exemplo, priorizou visitas à Arábia Saudita, Emirados e Qatar ao assumir o mandato, buscando fortalecer esses vínculos.
No entanto, a crescente autonomia e as novas alianças do Golfo indicam uma mudança na relação de confiança com Washington, que precisa lidar com o fato de que suas garantias estão sendo questionadas diante de uma nova configuração regional.