O Relatório de Política Monetária divulgado nesta quinta-feira pelo Banco Central (BC) indica que a inflação deverá se manter acima da meta até o início de 2028, apesar do patamar contracionista da taxa de juros brasileira, que o Comitê de Política Monetária (Copom) sinaliza que deve permanecer por um período prolongado. Segundo o documento, o hiato do produto, que mede a diferença entre a capacidade de produção da economia e a demanda efetiva, foi revisado para cima, indicando que a capacidade de produção (PIB potencial) é menor que a demanda atual, contribuindo para a pressão inflacionária.
Revisão do hiato do produto e necessidade de política restritiva
Especialistas destacam que o hiato do produto, que está positivo, reflete um mercado de trabalho aquecido, com a menor taxa de desemprego da história, salários maiores e custos de produção elevados, resultando na elevação dos preços ao consumidor. O BC justifica sua estratégia de juros altos como uma forma de conter a inflação, que atua como uma anestesia, deprimindo o crescimento econômico ao reduzir a demanda por investimentos e consumo.
Perspectivas para os próximos anos
De acordo com o Banco Central, o hiato do produto deve gradualmente se fechar e se tornar negativo até 2027, dado o efeito da política monetária restritiva, que visa conter a atividade econômica e aliviar a pressão inflacionária. No entanto, essa trajetória dependerá do cenário externo e de decisões internas, como eventuais mudanças em tributações, que podem temporariamente ampliar o hiato ao aumentar a renda disponível das famílias.
Custo da construção e investimentos
Outro indicador do momento econômico relevante é o menor reajuste mensal do custo da construção desde fevereiro, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ibre, refletindo a desaceleração dos aumentos nos preços de materiais e serviços de construção. Ainda assim, a formação bruta de capital fixo recuou 2,2% no segundo trimestre, revelando dificuldades na expansão da capacidade produtiva do país.
Impactos da política de juros na economia
Fernando Ribeiro, professor de Macroeconomia no Insper, compara os juros elevados a uma anestesia que suprime qualquer atividade econômica. “Se por um lado, a taxa Selic segura a inflação, por outro, ela dificulta investimentos e o crescimento sustentável do PIB”, explica. Segundo ele, a baixa na formação de capital demonstra como o regime de metas de inflação, vigente desde 1999, influencia diretamente a capacidade de expansão da economia brasileira.
Desafios estruturais e recomendações
Para Juliana Inhasz Kessler, professora do Insper, o maior hiato justifica a manutenção de uma política monetária restritiva, com a Selic em 15% ao ano, sem espaço para redução de juros no momento. No longo prazo, investimentos em qualificação, tecnologia e melhora do ambiente de negócios, incluindo a abertura de mercados, seriam essenciais para ampliar a capacidade produtiva e potencializar o crescimento do PIB.
Impactações políticas e econômicas
O Banco Central projeta que, com o avanço da política contracionista e a estabilização da economia, o cenário externo e doméstico continuará influenciando essa trajetória, incluindo possíveis mudanças fiscais, como uma reforma tributária que, se aprovada, poderá expandir temporariamente o hiato ao aumentar o poder de compra das famílias.
Segundo o site O Globo, o cenário macroeconômico atual revela a necessidade de equilibrar políticas de curto prazo com estratégias de médio a longo prazo, para garantir a estabilidade econômica e promover o crescimento sustentável do Brasil.
Para mais detalhes, acesse o relatório completo do Banco Central.