Na última quarta-feira (23), a Universidade Católica de Washington (CUA) promoveu um painel sobre como os cristãos devem refletir acerca do desenvolvimento da inteligência artificial (IA). O evento, organizado pelo Instituto de Ecologia Humana, abordou os riscos, as oportunidades e o papel da Igreja na discussão ética sobre o tema.
Ameaças da inteligência artificial e o valor das relações humanas
Durante o debate, o especialista em ética Brian J.A. Boyd alertou que a principal ameaça da IA é a potencial perda de conexão humana autêntica. Ele afirmou: “Ser humano é estar criado para relacionamentos de amor — por amor de Deus. Nossa natureza foi feita para receber graça.”
Boyd destacou que a maior preocupação reside no fato de que, se passarmos a relação principal a interlocução com máquinas, entramos em uma crise existencial. “Se a nossa referência principal for conversar com um computador ao invés de com outras pessoas, isso compromete nossa capacidade de oração e escuta da voz de Deus.”
A importância das relações pessoais e a influência da tecnologia
O padre bioeticista Michael Baggot também alertou sobre os impactos emocionais da IA, dizendo que “intimidades artificiais podem nos afastar dos vínculos interpessoais que fundamentam nossa felicidade e realização”. Segundo ele, corporações já controlam não apenas nossas informações, mas também nossas emoções, o que requer a implementação de limites e uma educação adequada para preservar a profundidade dos relacionamentos humanais.
Potenciais positivos da IA sob a perspectiva católica
Apesar dos riscos, Baggot destacou o desenvolvimento de tecnologias específicas, como o Magisterium AI, uma ferramenta de inteligência artificial treinada exclusivamente com documentos religiosos e textos papais, para auxiliar os fiéis a compreenderem melhor a fé católica. Ele explicou que o objetivo não é criar relações humanas artificiais, mas oferecer respostas confiáveis às dúvidas sobre o ensinamento da Igreja.
“Queremos evitar que as pessoas se confundam ao tratar a IA como uma conexão humanamente autêntica”, afirmou Baggot. “Spiritualidade e orientação espiritual devem ser sempre realizadas por um ser humano que oferece empatia e compreensão genuínas.”
A presença da Igreja na discussão tecnológica
Na opinião de Wilson, CEO de uma startup de IA, o debate sobre o futuro da tecnologia ainda é conduzido por atores que, de forma geral, não se preocupam com os valores cristãos. Ele argumentou que o controle e o avanço tecnológico são por vezes monopolizados por quem dispõe de maior capital, muitas vezes fora do alcance da influência e da participação da Igreja.
Por outro lado, Baggot reforçou que a Igreja possui uma história de profunda reflexão sobre o trabalho, a dignidade humana e o bem comum, elementos essenciais para orientar o uso ético da IA. “O papel da Igreja é contribuir com sua experiência e sabedoria para garantir que a tecnologia sirva ao desenvolvimento do ser humano e à sua felicidade integral”, concluiu.
Futuro da inteligência artificial e fé cristã
O painel terminou com a reflexão de que a Igreja tem uma oportunidade única de influenciar positivamente os rumos da inovação tecnológica, promovendo um avanço que respeite a dignidade, a liberdade e a espiritualidade. A expectativa é de que futuras discussões aprofundem ainda mais o diálogo entre fé e tecnologia, sempre buscando o bem comum.